A direita é maior que Bolsonaro

By | 14/10/2024 6:53 am
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A eleição de 2024 consolidou a inclinação do País à centro-direita e o enfraquecimento da esquerda. Eis o quadro mais amplo e nítido do que emergiu das urnas no dia 6 passado. Mas cabe refinar a análise. Essa direita que saiu fortalecida do pleito mostrou ser muito maior do que Jair Bolsonaro, alguém que até pouco tempo atrás era tratado como o líder incontornável de todo esse campo político. A esquerda, por outro lado, provou ser muito menor do que Lula da Silva. Há décadas, o petista é o centro de gravidade do chamado “campo progressista” e sufoca o surgimento de lideranças que ameacem seu protagonismo. Somado a isso, o apego a ideias emboloradas é tão ou mais responsável pela debacle da esquerda quanto a egolatria do presidente da República.

Comecemos pela direita. O triunfo político do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi determinante para a chegada de Ricardo Nunes (MDB) ao segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, é a evidência mais vistosa de que a direita não depende mais de uma associação explícita à figura de Jair Bolsonaro para conquistar votos. A bem da verdade, Nunes chegou ao segundo turno a despeito de Bolsonaro e da toxicidade que vem a reboque da aproximação com o ex-presidente. Mais bem dito: a dubiedade de Bolsonaro, que ora manifestava apoio mais direto a Ricardo Nunes, ora acenava para o delinquente Pablo Marçal (PRTB) ao longo da campanha, favoreceu o prefeito da capital paulista.

Bolsonaro ainda é capaz de mobilizar milhões de eleitores e, sobretudo, obter sucesso em sua empreitada familiar de distribuir a prole por Parlamentos País afora, mantendo a política como o principal meio de enriquecimento de seu clã. Um movimento como o bolsonarismo, afinal, não acaba de um dia para o outro. Dito isso, Bolsonaro já não representa, nem remotamente, aquela onda avassaladora que tomou o País de assalto em 2018. A rigor, já na eleição de 2020, quando ele era o presidente da República, seu desempenho como cabo eleitoral já dava sinais de fraqueza. Basta dizer que, dos 13 candidatos a prefeito que foram apoiados explicitamente por Bolsonaro em suas lives naquele ano, 11 foram derrotados.

O ex-presidente é incapaz de oferecer aquilo que em política é tratado como um ativo valiosíssimo: perspectiva de poder. Não há nada no horizonte conhecido que indique que Bolsonaro aparecerá na urna em 2026, por mais que ele acredite nisso, o que está mais para delírio do que para cenário. Bolsonaro, hoje, é só um retrato na parede. E essa é uma excelente notícia para a democracia brasileira. Afinal, com Bolsonaro fora do páreo eleitoral, a direita, enfim, pôde se livrar de seu sequestrador. Nesse sentido, não surpreende a vitória expressiva de candidatos a prefeito vinculados a uma direita mais civilizada e democrática, mais pragmática e menos ideológica, na primeira eleição após Bolsonaro ter sido condenado à inelegibilidade.

No campo oposto, está claro que, à falta de Lula da Silva, o PT – que por seus próprios méritos é incontestavelmente o grande partido de esquerda do Brasil há bastante tempo – caminhará a passos largos para se tornar um partido de nicho, se tanto. A despeito do fato de Lula da Silva ter voltado à Presidência, o PT conseguiu a proeza de, dois anos depois, eleger menos prefeitos do que o PSDB, um partido que, como se vê, está em decomposição a céu aberto. A partir de 1.º de janeiro de 2025, 274 cidades do País serão governadas por tucanos, ante as 260 que serão administradas por petistas.

A direita se diversificou nesta eleição e conquistou uma certa independência de Jair Bolsonaro. A esquerda encolheu e provou que segue totalmente dependente de Lula da Silva e nem assim consegue obter vitórias expressivas em disputas para cargos do Poder Executivo. A explicação para esse fenômeno, digamos assim, é muito simples: quem já foi governado pela esquerda, sobretudo pelo PT, quer distância de governos de esquerda.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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