Voto deveria ser opcional, mesmo com abstenção maior (confira comentário nosso)

By | 17/10/2024 7:50 am

Datafolha mostra que 34% não compareceriam às urnas, se não fosse obrigatório; sufrágio facultativo respeita liberdades

 

(Opinião da Folha, em 16/10/2024)

 

Eleitor em cabine de votação, em São Paulo (SP) – Jorge Silva – 6.out.24/Reuters

Segundo o Datafolha34% dos brasileiros deixariam de votar caso o comparecimento não fosse obrigatório e 65% iriam de qualquer modo.

Perguntas hipotéticas devem ser sempre recebidas com cautela. O que os entrevistados dizem que fariam numa situação irreal nem sempre corresponde ao que eles se dispõem a fazer quando tal cenário se materializa.

Não há dúvida, porém, de que as abstenções aumentariam na hipótese de o sufrágio deixar de ser compulsório. Foi o que se viu nos países que abandonaram a obrigatoriedade. Um caso emblemático é o da Holanda, que tornou o voto facultativo em 1967 e viu o comparecimento cair da casa dos 95% para os 80%.

Os dados estão em linha com o que se observa em nações onde o voto é opcional. Em geral, é o estrato mais pobre e discriminada que deixa de frequentar as urnas.

Essa é uma das razões por que alguns especialistas defendem a manutenção da obrigatoriedade. Seria uma forma de reduzir a marginalização daqueles que já são marginalizados.

É um argumento ponderável, mas nem de longe decisivo. Esta Folha defende há bastante tempo que o sufrágio seja facultativo, como ocorre na esmagadora maioria das democracias.

Trata-se de uma questão lógica. Não faz sentido dar ao cidadão a liberdade de escolher quem vai conduzir a nação e escrever suas leis, mas suprimir-lhe o direito básico de decidir se votará.

A compulsoriedade tem ainda viés autoritário. Regimes que prezam pelas liberdades não impõem nada que não seja absolutamente indispensável para a vida em sociedade, e o voto individual não está nessa categoria. O vitorioso de um pleito ao qual acorreram 90% dos cidadãos não é mais legítimo do que o de um ao qual compareceram 70%.

É verdade que, no Brasil, o termo “obrigatoriedade” é relativo. Embora as sanções para os faltosos sejam rigorosas, como impossibilidade de tirar passaporte, matricular-se em instituição de ensino oficial e até receber salário, no caso de servidores públicos, na prática o tratamento é bem mais brando.

Ademais, se no passado era trabalhoso ir até o cartório eleitoral e quitar os débitos em bancos, hoje, dado o desenvolvimento tecnológico, é possível fazer tudo isso sem sair de casa. Dependendo da distância e do transporte utilizado, não votar pode custar menos do que votar.

O eleitor já se deu conta disso e as taxas de absenteísmo subiram em relação às verificadas no século passado. O risco, nesse caso, é o de desmoralização da lei.

Comentário nosso – Acho que o voto não deveria ser obrigatório, como acontece na maioria das democracias. Mas será que nas demais democracias o eleitor é tão viciado em vender o voto quanto no Brasil? O risco que nós corremos é o eleitor que vota conscientemente deixar de votar e só os que vendem o voto comparecerem para cumprir o negócio que fizeram. Ou seja piorará a situação. Em benefício dos que se elegem comprando votos. Por ser obrigado a votar o eleitor consciente, termina votando conscientemente. Sem ser obrigado a votar e vendo os bons candidatos cada vez menos votados, o eleitor consciente vai perder todo o estímulo que tinha para votar. (LGLM)

Comentário

Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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