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(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 04/11/2024)
Anistia significa esquecimento. No caso, esquecimento do crime cometido por alguém. Mas cada um raciocine comigo. Uma coisa é um crime eventual, no calor de uma discussão ou de uma briga. Mata-se um simples conhecido, um amigo, um parente ou um desafeto. Serão crimes esquecidos em pouco tempo. Mas imagine o crime de um filho que mata o próprio pai ou a mãe . Ninguém vai esquecê-lo com facilidade.
No caso de oito de janeiro de 2023, houve um crime que não se pode esquecer com facilidade. Matar o pai é atentar contra uma das bases da família. Já pensou se cada um de nós matasse o próprio pai ou a própria mãe?
Os golpistas de 8 de janeiro atentaram contra as bases da democracria, a razão de existir da nossa república. Os golpistas atentaram contra a nacionalidade brasiliera. E por motivo fútil.
Eles estavam simplesmente insatisfeitos por que a maior parte do eleitorado, ao invés de quererem Bolsonaro como presidente, preferiram eleger Lula. E eles queriam que as Forças Armadas Brasileiras depusessem Lula e colocassem o ex-capitão no poder. E na sua revolta atacaram as sedes dos três poderes da República: o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o prédio do Poder Judiciário. Ou seja, atacaram os três poderes da República.
Vocês já imaginaram se todos os eleitores dos candidatos a prefeito que perderam as eleições deste ano resolvessem destruir os prédios das prefeituras e das câmaras de vereadores? E se isso passasse a ser costumeiro a cada eleição, com cada perdedor se revoltando contra os vencedores?
Pois o projeto de anistia proposto pelos bolsonaristas propõe justamente isto. Que nos esqueçamos que as centenas de pessoas que depredaram a Praça dos Três Poderes cometeram um crime contra a existência da própria nação e sejam anistiados e seus crimes sejam esquecidos. Mas não querem perdoar apenas os criminosos que cometeram pessoalmente o crime, querem perdoar quem vinha há muito tempo incentivando a bagunça, armando os bandidos e reunindo milhares de bandidos para os incentivarem a revoltar o país. Quem fugiu do país, para não entregar o Governo a Lula e quem ficou de longe incentivando que seus partidários “bagunçassem o coreto” numa tentativa para levarem as Forças Armadas a derrubarem Lula para colocarem a ele, Bolsonaro, no Poder. A Justiça já puniu Bolsonaro por alguns dos seus crimes, mas eles querem forçar a sua própria anistia, não só dos crimes pelos quais já foi condenado, mas pelos inúmeros outros crimes que também cometeu.
Se os bandidos bolsonaristas do Congresso Nacional conseguirem aprovar a anistia, o Presidente Lula será obrigado a vetar o projeto e se os mesmos bandidos derrubarem o veto, o Poder Judiciário será obrigado, como última instância a defender a democracia. Declarando o projeto inconstitucional, justamente por ser uma tremenda ofensa à democracia.
Para isso todos os democratas deste país temos que ficar atentos para impedir que nos tornemos, mais uma vez uma ditadura, onde tudo de ruim pode acontecer. Lembrem-se do que está acontecendo na Venezuela, com meio mundo de gente fugindo das misérias que acontecem no país. Sem democracia, um país se transforma numa ditadura, como aconteceu com o Brasil de 1964 a 1985, e ainda hoje se está procurando gente que foi assassinada pelos militares golpistas naquele período. Um tempo miserável que jamais podemos esquecer, mesmo quem nasceu depois dele. Bastava ser contra o governo para estar ameaçado de morte.