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(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 05/11//2024.
Aposentado há trinta anos do Banco do Brasil e há quatro do Ministério do Trabalho, sonho de vez em quando que ainda estou trabalhando em um deles. Nos sonhos, é como se eu ainda trabalhasse em uma das agências do Banco por onde passei. Ou quando o sonho é da época do Ministério, é como se estivesse na superintendência em João Pessoa, nas agências de Patos, Sousa ou Cajazeiras, aonde ia com mais frequência ou, em plena fiscalização nas empresas. Esses sonhos sempre são amenos, nunca são pesadelos.
Esta semana tive um desses sonhos. Sonhei que chegava na Superintendência do Ministério em João Pessoa, procurando onde ia trabalhar naquele dia. Passei por várias salas, encontrei muita gente conhecida, mas ninguém tinha “ordens de serviço” para mim. Algumas me perguntaram se eu não já estava aposentado, mas eu não lhes dei atenção. Uma das funcionárias, mandou que eu utilizasse uma máquiina nova que havia naquela sala e inserisse minha impressão digital ou o número da minha matrícula que a máquina mostraria alguma “ordem de serviço” que houvesse para mim. Coloquei o dedo na tecla para a digital e a máquina mostrou a mensagem: “Identidade não reconhecida”. Digitei minha matrícula 1171435 e recebi como resposta: “Sem serventia. Aposentado”. “Caí na real.”
Saí de lá decepcionado. Acordado me lembrei de um episódio que me aconteceu, em Recife, há uns quarenta e cinco anos. Naquela época, eu estava próximo de concluir o curso de jornalismo e na época a legislação exigia um estágio em empresa jornalística, e eu estagiava no Jornal do Comércio. O meu chefe me pautou para fazer uma entrevista com o grande compositor Capiba. E me deu uma dica: “Ele é aposentado do Banco do Brasil, e passa parte da manhã todo dia, na Sala dos Aposentados, da agência Centro, no Cais do Apolo”. Fui à procura de Capiba e lá mesmo fiz uma belíssima entrevista com o compositor. Nunca esqueci o episódio. Quando vim morar em João Pessoa, me deram uma dica: “Na agência Centro tem uma sala dos Aposentados e Manoel Maximiano, por quem perguntara, passa as manhãs por lá”.
Estes meus sonhos com as entidades em que trabalhei, me lembrou dar aqui uma sugestão. Os aposentados têm necessidade de reencontro com antigos colegas de trabalho. Oportunidade de relembar os velhos tempos, recordando histórias daqueles tempos. Uma forma de fugir da rotina diária de casa, sozinho, ou bem ou mal acompanhado. Que tal toda repartição, por onde passaram muitos funcionários, criar uma “Sala de Aposentados”, com um cafézinho quente, alguns jornais e revistas, alguns jogos de dominó ou de gamão e cadeiras confortáveis para os velhos ou velhinos se acomodarem e bater papo. Uma televisão grande para acomparem os jogos importantes e até uns dois computadores ainda utilizáveis, com WIFI, para darem uma olhada no Facebook, Whatsapp ou Instagram. A despesa será muito pouca e isto dará muita alegria a quem deu parte do sangue pela repartição. E os funcionários atuais ”vestirão a camisa” com muito mais gosto, sabendo que serão bem tratados mesmo depois de aposentados.
Os aposentados passarão a ter um endereço certo e fácil para quem os quiser procurar. Já pensou eu “bater o Recife”, há quase cinquenta anos procurando Capiba? Claro que hoje seria muito pior!