Muito barulho por nada – Parlamentares continuarão a meter a mão no nosso dinheiro

By | 07/11/2024 7:03 am
Imagem ex-librisPara quem tinha esperança de que o pagamento de emendas parlamentares seguiria critérios mais transparentes e rastreáveis depois da suspensão dos repasses pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, a Câmara dos Deputados deu uma contundente resposta nesta semana.

O texto garantiu R$ 50,5 bilhões aos deputados e senadores em 2025, praticamente o mesmo valor deste ano, sem atender às condições impostas pelo ministro para liberar os recursos bloqueados. Era um resultado previsível, como este jornal prenunciava em agosto, após a divulgação dos termos do pacto mediado pelo Judiciário para dar fim à crise entre Executivo e Legislativo (ver o editorial A montanha pariu um rato, publicado em 22/8/2024).

A proposta foi elaborada pelo deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), aliado do ministro Flávio Dino, e um dos vice-líderes do governo, e acabou por ser relatada por Elmar Nascimento (União-BA).

Elmar estava magoado com seu “melhor amigo”, ninguém menos que o atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), após o alagoano ter declarado apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa pela sucessão da Casa. Lira, então, deu a Elmar a relatoria do projeto, e bastou um dia para que essa bela amizade fosse reconstruída sobre novas bases.

As emendas individuais e de bancada, de execução obrigatória, continuarão a crescer ano a ano. A diferença é que, a partir de 2026, seguirão o arcabouço fiscal, que garante um aumento real, ou seja, acima da inflação, de 2,5%.

Quanto às emendas Pix, um tipo de emenda individual e, portanto, impositiva, os autores deverão indicar o objeto e o valor das indicações, dando preferência a obras inacabadas de Estados e municípios, mas não será exigido cronograma de execução nem assinatura de convênio para o envio dos recursos.

Ainda em relação às emendas de bancada estadual, a exigência de que sejam restritas a projetos e ações estruturantes foi flexibilizada e a lista, ampliada. Os parlamentares poderão dividir os recursos individualmente e também poderão destinar verba para outros Estados.

Herdeiras das emendas de relator, que deram base ao “orçamento secreto”, esquema revelado pelo Estadão, as emendas de comissão partirão do patamar de R$ 11,5 bilhões, serão corrigidas pela inflação – privilégio garantido somente às despesas obrigatórias – e só poderão ser bloqueadas na mesma proporção dos demais gastos discricionários.

Além disso, não será preciso identificar os nomes dos padrinhos das emendas de comissão, uma afronta não só à decisão mais recente de Flávio Dino, como à do plenário do STF em 2022, quando foi reconhecida a inconstitucionalidade do “orçamento secreto”. Caberá aos líderes, e não aos colegiados, determinar o destino do dinheiro.

O texto recebeu 330 votos favoráveis e 74 contrários. Ele ainda será submetido ao Senado, mas por lá tampouco enfrentará problemas. O Congresso tem pressa para liberar os R$ 17,5 bilhões bloqueados pela decisão de Dino e, de acordo com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a proposta deve ser analisada já na próxima semana.

Se aprovada, a medida deve referendar as mudanças iniciadas pelo Congresso há quase dez anos. Foi em março de 2015, logo após a reeleição da então presidente Dilma Rousseff, que a primeira de uma série de emendas constitucionais que alteraram a execução das emendas parlamentares foi aprovada, em uma sessão da Câmara liderada por aquele que se tornaria o algoz da petista, Eduardo Cunha (MDB-RJ), líder do mesmo grupo político de Arthur Lira e de Hugo Motta.

O impacto desse movimento no processo eleitoral não pode ser desprezado. Enquanto essas indicações abocanhavam um espaço crescente do Orçamento Geral da União, deputados e senadores consolidavam suas bases eleitorais. Na disputa deste ano, a proporção de prefeitos reeleitos foi de 80%, a maior dos últimos 20 anos, e, nas 112 cidades mais contempladas com emendas, o sucesso foi ainda maior e alcançou impressionantes 93,7%.

Com o projeto aprovado nesta semana, tudo muda para continuar como está, exatamente como a cúpula do Legislativo desejava.

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *