Fux é o relator de ação que questiona constitucionalidade da Lei das Bets. Ministro conversará com Poderes sobre decisão liminar no tema
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou, nesta segunda-feira (11/11), que a Lei das Bets, cuja constitucionalidade é discutida em ação que tramita na Corte, precisa de ajustes imediatos. Relator do caso, o magistrado declarou que debaterá o tema com os outros Poderes para avaliar a necessidade de uma decisão liminar, que tem impacto imediato.
A previsão foi dada por Fux durante conversa com jornalistas após o encerramento da primeira etapa de audiência pública que trata do impacto das bets no Brasil. “Nós terminamos a primeira parte da audiência; vamos ter a segunda hoje ainda, e a terceira (na terça). De toda maneira, os problemas que foram aqui aventados, relativos a comunidades carentes, aos problemas mentais e aos outros graves problemas que foram destacados, levam-nos à ideia de que esse julgamento tem que ser urgente”, disse.
Embora a possibilidade de uma liminar seja levantada pelo ministro, o julgamento de mérito da ação só ocorrerá no primeiro semestre de 2025, quando será tratada a validade da lei que regulamenta o setor. “Tem que avaliar também esse ‘avanço do dragão’, como eles disseram aqui. Temos que enfrentar talvez de uma maneira mais urgente”, completou.
Luiz Fux é relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 7.721, na qual a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) pede que a Lei das Bets (Lei nº 14.790/2023) seja declarada inconstitucional pelo STF. É nesse caso que ele vê urgência.
O ministro dividiu a discussão sobre impactos das apostas on-line no Brasil em oito eixos temáticos. Entre eles estão a preocupação com a saúde mental dos brasileiros; as consequências sociais das bets; e a tributação do setor de apostas.
Veja:
- questões técnicas associadas à saúde mental e aos impactos neurológicos da prática das apostas sobre o comportamento humano;
- efeitos econômicos para o comércio e seus efeitos na economia doméstica;
- consequências sociais desse novo marco regulatório;
- uso das plataformas de apostas para lavagem de dinheiro e demais crimes;
- tributação e extrafiscalidade no setor de apostas;
- transparência das plataformas de apostas;
- publicidade e instrumentos de gameficação no setor de apostas; e
- direitos patrimoniais dos apostadores.
Fux ressaltou, na abertura do evento, que a intenção das discussões é uniformizar entendimentos. “A presente audiência pública é uma iniciativa que pretende pluralizar as decisões proferidas pelo STF, oportunizando que a sociedade civil possa contribuir para a atividade de interpretação e de guarda da Constituição Federal”, destacou.
“Dragão que precisa ser domado”
Durante a audiência, o advogado-geral da União, Jorge Messias, fez uma análise sobre impactos das apostas on-line no Brasil, sob a visão do governo. Messias destacou que o modelo de bets como está hoje afronta a Constituição e chega a ser um problema de saúde pública devido ao vício, no que ele considera parecido com a dependência química provocada pelas drogas.
“Precisamos de limites, monitoramento que impeça essa indústria de causar vícios, especialmente nos mais vulneráveis. O atual modelo de bets não está alinhado com os princípios de nossa Constituição. Estamos diante de um dragão, e nosso objetivo é tentar domá-lo”, assinalou Messias na audiência mediada pelo ministro Luiz Fux.
Messias expôs o posicionamento do governo federal, em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Precisamos garantir que a exploração das apostas de cota fixa não comprometa a dignidade da pessoa humana, a segurança financeira e o bem-estar da população, especialmente dos grupos mais vulneráveis. A Advocacia-Geral da União defende que a legislação caminha para uma inconstitucionalidade progressiva, sendo recomendável aos Poderes da República, cada qual em sua função, a imediata correção das mazelas que as apostas de cota fixa acarretaram o tecido social”, ponderou aos participantes da audiência pública.
Macaé falou da preocupação com a exposição de jovens e adolescentes ao ambiente de jogos e pediu que o STF decida levando em conta a dignidade dos direitos humanos.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), contudo, defende a atuação das bets, contanto que dentro da legalidade. A entidade acredita que proibir a prática no país apenas fortaleceria o mercado ilegal.
“Fechá-las, seria empurrar os apostadores desse tipo de loteria para o jogo ilegal, sem regulação, sem proteção do consumidor e sem arrecadação de tributos, mais transformada num braço financeiro da criminalidade organizada”, afirma Gustavo Binenbojm, advogado que representou a Abert na audiência no STF.
Para ele, o legislador estabeleceu diretrizes e restrições bastante rigorosas às propagandas de casas de apostas. “Ou seja, a ideia do jogo responsável, que permeia toda a lei, prevê um modelo de regulação regulada pelo Estado, absolutamente legítimo e alinhado às melhores práticas internacionais”, concluiu.
Varejo
O representante da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Felipe Tavares, comentou as preocupações do setor com as apostas on-line. Nos levantamentos e estudos feitos pela CNC, as bets são chamadas de cassinos on-line. Uma das preocupações é o comportamento dos brasileiros diante das apostas.
A avaliação é que as bets têm impactado o consumo. “Toda vez que o varejo deixa de faturar, o que foi impactado é o padrão de consumo das famílias brasileiras. Todo seu consumo é via varejo. Seja em mercados, seja em supermercados, seja em outros estabelecimentos”, argumentou.
Comentário nosso – Este é um problema sério para o qual temos que encontrar uma solução equilibrada. A grosso poderíamos dizer: “Não há por que mexer com isso. Joga quem quer”. Mas seria a mesma coisa que dizer: “Não se deve impedir a venda de veneno, pois usa quem quer”. Mas quando qualquer coisa representa perigo para a economia, para a saúde ou para a segurança da população, o Poder Pùblico tem obrigação de intervir. No caso das bets já está mais do que provado que está gerando prejuízo econômico para quem não se controla na hora de jogar e está patente que muita gente está desviando até o dinheiro essencial da sobrevivência, caso do bolsa-familia, para investir nestes jogos. Entendemos que a exemplo de outros jogos não deve ser proibido, mas deve haver medidas que impeçam os desvios e os excessos. Que haja limites e impedimentos. (LGLM)