À sombra da aclamação – Hugo Motta candidato único

By | 15/11/2024 7:09 am
Imagem ex-librisO deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) caminha para disputar a presidência da Câmara sem adversário, condição sacramentada com a desistência dos candidatos que restavam – Elmar Nascimento (União-BA), que até poucas semanas era visto como o favorito, e Antonio Brito (PSD-BA), que viu seu partido abrir mão de sua candidatura para apoiar Motta. O líder do Republicanos já havia promovido uma aliança improvável ao conquistar o apoio simultâneo do PT de Lula da Silva e do PL de Jair Bolsonaro, e uma rede extensa de aliados, unindo MDB, PP, Podemos, PCdoB, PV, PDT, PSB, PSDB, Cidadania, Solidariedade, Rede e PRD, além da bancada evangélica na Câmara e, é claro, do próprio Republicanos, seu partido.

Caso essas alianças se mantenham firmes até fevereiro, data da eleição, Hugo Motta será o quinto presidente da Câmara eleito por aclamação após ser candidato único. Antes dele, também o foram Flávio Marcílio (Arena/PDS), Ibsen Pinheiro (PMDB), Michel Temer (PMDB) e João Paulo Cunha (PT). Isso assegura a Motta um triunfo político inquestionável, revelado por atributos que lhe garantiram bons padrinhos e trânsito gelatinoso em meio às siglas e ideologias com vida no Congresso. Mérito de quem é jovem, mas está há 14 anos na Câmara, fez parte da base dos governos Temer e Bolsonaro e é próximo do governo Lula – apesar de ter votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff, do teto de gastos e da reforma trabalhista, agendas abominadas pela cartilha lulopetista.

Em se tratando de Câmara dos Deputados, porém, o histórico de eleições por aclamação desabona prognósticos muito otimistas ou elogios sem reparos. As aclamações de Marcílio, por exemplo, se deram num contexto do bipartidarismo da ditadura militar – ainda em plena abertura lenta e gradual, em 1979 e 1983. Ibsen Pinheiro, em 1991, teve a candidatura marcada pelo que na época ficou conhecido como “Anões do Orçamento”, o ruidoso caso envolvendo parlamentares em desvios e fraudes em recursos do Orçamento da União. Ibsen acabaria cassado três anos depois, acusado de sonegação e enriquecimento ilícito, até voltar à vida pública mais tarde.

Temer venceu por aclamação, em 1999, no contexto das deliberações que culminaram na Emenda Constitucional 16, que instituiu a reeleição dois anos antes. Embora até hoje seja reconhecido como um habilidoso político e grande conciliador, ele, que vinha do primeiro mandato de presidente da Câmara, foi beneficiado pelo novo instituto, com o qual também se fartariam o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, governadores e prefeitos. João Paulo Cunha, por sua vez, chegou sem adversários ao comando da Câmara, em 2003, ainda empurrado pela onda vermelha que invadiu o País com a eleição de Lula da Silva, no fim do ano anterior. Foi sob sua gestão na Câmara que ocorreu o inesquecível mensalão, escândalo de compra de votos que quase derrubou Lula.

Não está escrito nas estrelas que Motta repetirá a má trajetória dos eleitos por aclamação. Mas numa Casa que mistura acordos e consensos legítimos com a mesma desenvoltura com que interesses menores e troca de favores operam nas sombras, o temor é inevitável e a vigilância, imprescindível.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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