Tyson: O Último Round da Lenda

By | 17/11/2024 11:12 am

(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e poeta, em 17/11/2024)

Fui dormir de madrugada só para ver Mike Tyson de volta aos ringues. Sabia que era um espetáculo promovido pela Netflix — aliás, o mundo inteiro sabia. Mas o que importava era que ele estava lá. Talvez fosse sua última aparição, um adeus àquele que sempre será imortal na história do boxe.

Tyson não é só uma lenda, é um Deus. Um homem de músculos de ferro e cicatrizes profundas, que antes fora um demolidor. E mesmo se apresentando apenas uma sombra do que foi, não precisava de reconhecimento, mas talvez de esperança. Algo que o fizesse encarar o futuro sem as amarras do passado.

Ao pisar naquele quadrilátero, ele não buscava a vitória. Mike Tyson foi derrotado por Jake Paul, na madrugada de sábado (16), no AT&T Stadium, em Dallas, Estados Unidos, por decisão unânime dos juízes. Sua simples presença já era a própria glória. Do outro lado, seu adversário sabia disso. Estava diante do maior de todos os tempos, e sua postura era de quem venerava mais do que combatia. A cada golpe, parecia pedir desculpas. “Foi assim que combinamos, seu Tyson?”

Derrubá-lo era improvável. Não havia por quê. Estar ali, no mesmo espaço que o ídolo supremo de todas as gerações, já era o prêmio. A luta, mesmo coreografada, era digna das noites de sábado. Tyson, um homem cercado por seus fantasmas, adentrava aquele espaço como sempre: simples e louco.

No rosto tatuado da fera, as cicatrizes do tempo. Controverso, polêmico, humano, divino. Era tudo combinado, uma dança cuidadosamente ensaiada. Mas, para mim, era como se fosse a primeira vez. Eu via novamente, com os olhos da minha adolescência inocente, o homem de ferro derrubar os vilões das minhas histórias em quadrinhos.

Sempre foi ilusão, eu sei disso agora. Era tudo parte da indústria do entretenimento. Mas, afinal, o que importa? Assim não o é a própria vida — uma ilusão, moldada e recriada, onde acreditamos porque precisamos acreditar… Para continuar resistindo, mesmo quando o último round já parece perdido?

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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