Aos apoiadores, um karma neste momento mais difícil: precisam compreender que seu líder, a quem depositaram toda a esperança, talvez mereça ficar um longo período na cadeia
Porque está cada vez mais evidente que tivemos um governante pouco afeito a questões administrativas. Sua principal obsessão não eram os temas como tornar sua população mais próspera, mais autônoma, mais capaz de crescer de maneira sustentável frente a um futuro mundial incerto e turbulento. Eram sempre pequenas manias, obsessões mesquinhas como “desesquerdizar” as universidade, combater minorias. Antes fosse só isso. Havia sim, ao que tudo indica, aspiração e mesmo planejamento para que o Brasil se tornasse uma ditadura – nos moldes da Venezuela de Nicolás Maduro, mas, com ideologia invertida.
Prevalecia o desprezo à democracia de um governo que começou com a seguinte frase: “para fechar o STF é preciso um jipe e um cabo”, dita por um arruaceiro que também atendia como deputado federal e filho do presidente eleito. Atenção, frase pronunciada antes que o STF começasse, talvez como contraponto, a se exacerbar de suas funções e combater a “extrema-direita”.
Por suas convicções íntimas antidemocráticas, Bolsonaro foi capaz de a todo momento tentar desmoralizar nosso processo eleitoral, na ladainha sem fim sobre fraudes nas urnas eletrônicas que nunca conseguiu comprovar. Por tudo isso, se filiar ao bolsonarismo hoje é estar do lado dos regimes autoritários, da subversão (detalhe da ironia da história que jogou o subversivo da esquerda para direita).
Personagem cujo discurso sempre foi de destruição e não de construção, Bolsonaro se beneficiou de uma série de circunstâncias para chegar ao poder. Entre elas a fabulosa debacle econômica do governo de Dilma, que após seus experimentos heterodoxos na economia, elevou tanto a inflação como o desemprego ao patamar dos dois dígitos, assim como deixou o PIB negativo e o déficit colossal.
Bolsonaro se beneficiou também com os escândalos da Lava Jato que, de sua equipe de Curitiba, chefiada pela dupla Sergio Moro/Deltan Dallagnoll, feriu gravemente a esquerda e o PT; e de sua equipe de Brasília, liderada por Rodrigo Janot, que favoreceu o trabalho da antipolítica ao atingir o centro político. Num cenário de crise econômica e dos bilhões desviados, como uma barata de holocausto, Jair Bolsonaro vence as eleições contra um combalido Partido dos Trabalhadores representados pelo então “poste” Fernando Haddad. O vencedor, de quebra, tirou do armário milhões e milhões de brasileiros que passaram a se declarar abertamente de “direita” em todo lugar.
Mas fora um lampejo liberal na economia (contra as convicções mais profundas do presidente, por sua trajetória, diga-se de passagem), reformas preparada ainda no governo Michel Temer, tivemos um governo marcado pelo bizarro, pelo absurdo, por regressões que só não podemos chamar de medievais porque a idade média foi um período até bem mais sofisticado do que a gente pensa.
“Ah, o outro lado é o Partido dos Trabalhadores’, irão alegar os empedernidos bolsonaristas. Na cabeça desses militantes da chamada extrema-direita, o PT na verdade é uma grande quadrilha e Lula é um dos seus cabeças, junto com José Dirceu (o amor do PT pelas ditaduras de esquerda e a tentativa de reescrever a história da Lava Jato não ajudam). Nisso, ao disputar com seu espelho invertido, os bolsonaristas conseguem quase a metade dos votos dos brasileiros e podem até repetir a dose. É dessa armadilha que precisamos nos livrar com urgência para retomarmos um mínimo consenso enquanto nação.
De um lado, quem está contra Bolsonaro precisa entender que seus adversários são brasileiros como os demais e precisam se integrar à nação. Aos bolsonaristas um karma neste momento mais difícil: precisam compreender que seu líder, a quem depositaram toda a esperança, talvez mereça ficar um longo período na cadeia, assim como todos que resolveram atravessar as quatro linhas da Constituição – o que incluí os vândalos (ou, se quiserem, golpistas), do já famigerado 8/1 de 2023, além de um bando de criminosos coniventes cujos nomes foram revelados no dia de hoje.
Comentário nosso – Infelizmente tem bolsonarista tão louco como os protagonistas deste episódio e sempre vai ter. Hoje mesmo ouvimos um jornalista tentando justificar as ações destes bandidos, dizendo que não fizeram nada de mais. Pensar em matar um não é crime, mas quando o cidadão, compra a arma, faz todo o planejamento do crime, junta outros parceiros e prepara tudo para cumprir a ameaça, ele tem que ser punido, senão, mais dia menos dia, ele executa o seu plano. Isto tem toda a lógica. É a mesma coisa de um marido que vive ameaçando a mulher, se ele não for impedido, termina executando a sua ideia. (LGLM)