(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e poeta, em 20/11/2024)
O dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. A data é uma homenagem à morte de Zumbi dos Palmares, símbolo de liberdade da cultura negra. Relembro a diáspora africana. Não falo apenas da imigração forçada, mas das lutas. Não falo apenas da escravidão, mas da ressocialização. Falo de ideias e crenças. De identidade. De reconhecer-se.
O Brasil é afro. É África. É negro. É graça. É miscigenação. A Igreja da Penha é negra. O porto de Salvador é negro. O Rio de Janeiro. São Paulo. As ruas da cidade onde moro, os meus becos, os meus medos…
Negro é dizer não ao preconceito. À servidão disfarçada. Os movimentos sociais são negros. Negro é resistência. É persistência. É resiliência. Negro é José do Patrocínio, que ergueu a voz contra a escravidão. É Dandara, que combateu nas trincheiras da liberdade. É também Luiz Gama, Machado de Assis, Cruz e Souza, Nilo Peçanha, Pixinguinha, Carolina de Jesus, Grande Otelo…
São aqueles que enfrentaram o chicote e o açoite. Que transformaram a dor das senzalas em revolução, usando como arma o amor.
Negros de peles negras. Negros de almas negras. Negros de sangues negros. Negros são os pés descalços, a ancestralidade, as vozes dos quilombos, o empoderamento. É o caminho à frente, as batalhas ainda por travar. É o discurso de Martin Luther King ecoando até hoje.
Negro é a Umbanda, o Candomblé, o Mungunzá, o Vatapá, o Abará. É a Capoeira: “Qué apanhá, sordado? – O quê? – Qué apanhá?” Pernas e cabeças na calçada, girando com a força de séculos de luta.
Hoje é um dia de reflexão sobre intolerância religiosa e racismo. É também um dia de luta. De pedir por Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial e pela preservação dos nossos direitos.
Posso não ter a pele negra, mas minha história sim. A minha essência é negra, como negra é a minha oposição à indiferença. Pois o que me define é a minha consciência. Eu sou negro. E daí?