(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitario e poeta)
Ser velho é reencontrar a verdadeira pureza. É desafiar o tempo, sem tempo. Sim, os sonhos vão ficando distantes, e a vida incrivelmente sem graça; mas faz parte da trama. O medo bate à porta com menos frequência, e arriscar já não é mais tão necessário assim.
Dormir cedo e acordar cedo transforma-se em um ritual de sobrevivência. O pijama, o uniforme oficial. Os sorrisos tornam-se raros, e os abraços, ainda mais escassos. Ninguém nos visita. Os amigos, agora moram na lembrança. E os filhos ficam sempre lá, emoldurados, nos retratos de cabeceira. Já não saímos de casa para lugares onde precisamos nos demorar. A missa? Vá lá, que seja.
Pequenos prazeres, antes ignorados, ganham importância e se tornam compromissos regrados, muitas vezes inadiáveis. Deixamos de nos preocupar com o que os outros pensam e passamos a valorizar o que antes parecia um ofício banal:
Cuidar das plantas e alimentar os bichos. Resgatar os livros esquecidos na prateleira. Ouvir músicas de antigamente. Café quente e o jornal sobre a mesa… Cenas que se repetem em nossos aposentos, todos os dias, exceto aos domingos, quando morremos para ressuscitar na segunda-feira.
O ruim de ser velho talvez seja descobrir que a vida é, no fundo, algo simples e besta. E que percebemos isso apenas quando estamos de saída. Ser velho é viver uma solidão acompanhada. É carregar a certidão de “quem sentiu o frio da desgraça” e sobreviveu.
Comentário nosso – Muito jovem ainda, Misael já descobriu que a velhice ainda pode nos dar alegrias. Eu estou curtindo os netos, Misael curte filho e neto da mesma idade. Mas o mesmo aconteceu comigo. Meu primeiro neto vai fazer vinte e oito anos e minha caçula só tem vinte e nove. E junto com as alegrias de hoje curto a lembrança das alegrias que vida me concedeu, como já me garantia meu tio, Inácio Paca: “Aproveite a vida, para ter de que se lembrar quando ficar velho”. (LGLM)