Editorial de Notícias da Manhã, de Misael Nóbrega de Sousa, em 25/11/2024)
A política brasileira enfrenta um dos momentos mais delicados de sua história recente, com revelações que incluem indiciamentos, delações e, o mais grave, um suposto plano para assassinar líderes nacionais e desestabilizar a democracia. As investigações da Polícia Federal apontam evidências robustas, como depoimentos, gravações e documentos, mas enfrentam o ceticismo de parte significativa da sociedade, principalmente entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para a direita brasileira, essas acusações são vistas como “narrativas” – uma tentativa de deslegitimar as investigações. Argumentam que tudo não passa de uma conspiração orquestrada pelo ministro Alexandre de Moraes e manipulada pelo governo petista para perseguir adversários. Para os bolsonaristas mais fervorosos, nenhuma prova é convincente, enquanto a idoneidade de seu líder permanece inquestionável.
Por outro lado, a esquerda celebra cada novo episódio envolvendo Bolsonaro – da falsificação de cartões de vacina ao episódio da baleia, passando pelo caso das joias sauditas. Porém, é preciso reconhecer que essas denúncias, embora graves, empalidecem diante das recentes revelações: a articulação para matar adversários e tomar o poder à força. Este é o cerne da ameaça, pois não se trata apenas de corrupção ou má gestão, mas de um ataque direto às bases da democracia.
O 8 de janeiro já havia exposto as intenções de um grupo radical inconformado com a derrota nas urnas. A depredação da Praça dos Três Poderes e a tentativa de desestabilizar o governo eleito marcaram um dos capítulos mais sombrios da história política recente. Agora, os indícios de uma articulação mais ampla, envolvendo figuras de alto escalão e planos para instaurar um regime autoritário, levam essa crise a outro patamar.
Que Bolsonaro era o principal beneficiado por essas ações, ninguém contesta. Ele incentivou manifestações, rejeitou o resultado das eleições e fugiu para os EUA antes dos atos de janeiro. No entanto, até onde vão suas responsabilidades diretas suficientes para prendê-lo?
Para os mais extremistas, a possibilidade de sua prisão é vista como “operação vingança,” um movimento político de Lula e Alexandre de Moraes para destruir a direita. E que tudo não passa de uma teoria da conspiração que visa proteger Lula e o PT. Esse discurso, alimentado pela polarização, mantém o país em um estado de permanente tensão.
E para aqueles que não se alinham a nenhum dos lados, surge a pergunta: em quem acreditar? A resposta passa pela necessidade de reforçar as instituições democráticas, garantindo investigações transparentes e isentas. Somente a verdade – amparada em provas e no devido processo legal – poderá reconstruir a confiança da sociedade.
O Brasil está diante de um teste crucial. Não se trata de escolher lados, mas de defender princípios. A democracia não pode ser refém de ideologias; ela deve ser guiada pela justiça. O futuro do país depende dessa distinção, não da falta de humildade daqueles que querem continuar acreditando na sua verdade.