Não demorará muito tempo para políticos de direita perceberem que o ex-presidente se tornou tóxico; a reação tímida mostra que ele já é percebido como carta fora do baralho
(Carlos Pereira, cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) , no Estadão, em 25/11/2024)
Não demorará muito tempo para os políticos de direita perceberem que Bolsonaro se tornou tóxico. A reação tímida das principais lideranças políticas conservadoras com o novo indiciamento do ex-presidente é um sinal claro de sua toxidade e de que Bolsonaro já é percebido por alguns como carta fora do baralho.
Com o desenrolar das investigações, da super exposição de sua participação direta nos crimes, e de sua eventual condenação, Bolsonaro será percebido não apenas como descartável pelo fato de já ser inelegível por dois ciclos eleitorais, mas também como extremamente nocivo para a sobrevivência política e eleitoral dos próprios políticos de direita.
O grande desafio é encontrar novas lideranças carismáticas que sejam eleitoralmente competitivas e, acima de tudo, comprometidas com a democracia.
Será que a direita vai conseguir se livrar de Bolsonaro? Ou continuará a ser refém do ex-presidente assim como a esquerda se encontra refém de Lula até hoje?
A grande oportunidade perdida, não só pelo PT, mas também pelos outros partidos de esquerda, de se renovar e de encontrar lideranças competitivas alternativas ocorreu após as condenações e prisão de Lula pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Mas a derrota de Fernando Haddad à Presidência em 2018 voltou a aprisionar a esquerda a Lula, especialmente em torno da ideia de que Lula, uma vez solto, seria a única liderança capaz de derrotar Bolsonaro em 2022.
A direita, por muitos anos, ficou diretamente associada a ditadura militar. Até recentemente a direita era tão envergonhada que pouquíssimos políticos tinham coragem de assumir o rótulo de direita ou defender abertamente uma agenda política conservadora. Se a direita não aproveitar essa chance e se afastar de Bolsonaro, correrá o risco a ter a sua identidade mais uma vez associada ao autoritarismo e perderá competitividade eleitoral.