(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor e poeta)
A falta d’água no sertão nordestino é um problema tão antigo quanto as histórias que moldaram essa região. Para o homem do campo, a água não é apenas um recurso, mas o elo vital para a sobrevivência, garantindo a subsistência através da agricultura de base e da criação de animais. Contudo, ano após ano, a seca não é o único adversário. A ineficácia das políticas públicas e a má gestão de recursos intensificam esse drama, perpetuando um ciclo de pobreza e dependência.
Programas como a Operação Carro-Pipa, idealizados para levar água às áreas mais críticas, muitas vezes se transformam em ferramentas de barganha eleitoral. Prefeitos e gestores locais utilizam esses serviços como moeda de troca, priorizando eleitores fiéis e comprometendo a universalidade do atendimento. Além disso, há relatos de desvios de recursos e fraudes nos contratos, tornando a solução um problema a mais para os sertanejos.
A transposição do Rio São Francisco, projetada como redenção hídrica do Nordeste, trouxe alento, mas ainda não atende de forma plena a todas as regiões necessitadas. A falta de infraestrutura em algumas cidades e a demora nos repasses federais dificultam o acesso a essa conquista. A promessa de um sertão abastecido e sustentável parece distante, especialmente quando questões orçamentárias são usadas como justificativa para atrasos nos planos emergenciais.
Enquanto isso, o governo federal impõe critérios rígidos para incluir municípios em programas emergenciais, alegando limitações financeiras. Na prática, isso exclui comunidades inteiras que sofrem silenciosamente. A burocracia, que deveria organizar as ações, acaba paralisando os avanços.
Por outro lado, os representantes políticos paraibanos no Congresso Nacional precisam fazer mais do que discursos. É necessária pressão contínua para que o governo federal priorize investimentos estruturantes e garanta a efetividade da transposição e outros projetos hídricos. Políticas públicas devem ser formuladas com foco na sustentabilidade, como cisternas, barragens subterrâneas e recuperação de nascentes, minimizando a dependência de ações paliativas.
O sertão nordestino não precisa apenas de água; precisa de justiça e planejamento. A sobrevivência do homem do campo não pode mais ser refém de interesses políticos ou de decisões financeiras que ignoram o sofrimento de quem planta e colhe em terras castigadas pela seca. Afinal, enquanto o poder público adia soluções definitivas, o sertanejo segue resistindo, teimoso como as árvores de raiz profunda que aprendem a viver com pouco, mas jamais desistem de florescer.