Bolsonaro saiu à francesa, após tramar até o fim uma maneira de ficar no poder

By | 27/11/2024 9:15 am

Material de indiciamento, que será enviado à PGR, tem muitos buracos, com situações estranhas incomuns para esse tipo de ação

(Monica Gugliano, no Estadão, em 26/11/2024)
Foto do author Monica  GuglianoE só folhear uma desses manuais sobre como virar um CEO em 24 horas, como liderar o time em momentos críticos, que você encontrará uma dezena de conselhos, recomendações e regras. Mas há um pedaço que eles sempre pulam. Como chegar aos postos de liderança. A não ser que você seja o capitão reformado Jair Bolsonaro, que já nasceu sortudo, esquece. Jair, ainda capitão, foi desligado do Exército. Era indisciplinado, chegou a arregimentar uns colegas para detonar umas bombas, por aí.
Muitos anos se passaram. Foi vereador, deputado (passou quase 30 anos como deputado federal) e presidente da República, o mais alto cargo da República. Rodeou-se de ex-colegas (muitos tinham virado generais), tenentes, capitães, coronéis. De tudo um pouco. Criou “chiqueirinhos” para falar com a imprensa. Ele de um lado e os jornalistas do outro. Um modelo diferenciado, mais aberto e com mais mobilidade, permitia que ele conversasse com os eleitores e admiradores.
Após ser indiciado por tentativa de golpe de estado, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Brasília na noite desta segunda-feira (25)
Após ser indiciado por tentativa de golpe de estado, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Brasília na noite desta segunda-feira (25) Foto: Wilton Junior/Estadão

Ninguém podia desobedecê-lo. Sua vontade, a lei. Secretárias, mordomos, garçons, pilotos de avião, helicóptero e por aí vai. Gostou tanto que nem ele, nem os seus asseclas começaram a achar interessante ir embora dali. Criaram confusões, barracos e passaram papelão no exterior.

Até que resolveram ficar mais um tempo por ali. Assim começou a ser tramado um golpe de Estado e os assassinatos de nada menos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes.

Deu ruim. A Polícia Federal descobriu a trama cheia de lances novelescos. 37 foram indiciados, entre eles o próprio Jair Bolsonaro. As investigações – que se consumaram graças à delação do ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, tem de tudo desde momentos hilários, protagonizados por militares que mais pareciam trapalhões, até situações seríssimas como a ideia de cometer um atentado contra o presidente da República.

O ministro Alexandre de Moraes deve mandar para Procuradoria-Geral da República o inquérito com centenas de páginas. Mas é difícil que o procurador Paulo Gonet, devolva o material antes do próximo ano.

O material, pelo menos conhecido até agora, tem muitos “buracos”. Há situações estranhas incomuns para esse tipo de ação. Há brechas sobre o comando, sobre a responsabilidade por cada uma das tarefas. E há a repetida afirmação de que os tais golpistas não conseguiam a autorização do Alto Comando para por o plano rua, um risco imenso de uma guerra civil. Mas há uma suspeita ainda maior: a de que Bolsonaro, na hora H, saiu à francesa.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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