Editorial: A Busca por Justiça Fiscal no Brasil

By | 03/12/2024 2:23 pm

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(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e poeta, em 03/12/2024)

O sistema tributário brasileiro, há muito tempo, carrega uma marca de injustiça: os mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos que os mais ricos. Essa característica regressiva decorre da predominância de tributos indiretos, embutidos no preço de bens e serviços, que pesam mais sobre os trabalhadores e as famílias de baixa renda. Enquanto isso, os superricos, que concentram a maior parte da riqueza nacional, são pouco tributados em suas fortunas e rendimentos de capital.

Diante desse cenário, a proposta do governo de isentar do Imposto de Renda (IR) os brasileiros que ganham até R$ 5 mil por mês e tributar os rendimentos de superricos se apresenta como um passo significativo rumo a um modelo fiscal mais justo. Com essa medida, a classe trabalhadora será diretamente beneficiada. Professores, técnicos, pequenos comerciantes e milhões de outros trabalhadores poderão respirar aliviados, pois deixarão de ver parte importante de seus salários comprometida com o IR.

Por outro lado, o governo propõe que os superricos — aqueles que acumulam milhões em lucros, dividendos e grandes patrimônios — passem a contribuir de forma mais justa para a sociedade. Atualmente, o Brasil é uma exceção mundial ao não tributar lucros e dividendos, prática comum em países desenvolvidos. Essa mudança busca corrigir uma distorção histórica, distribuindo melhor o peso da arrecadação tributária e reduzindo as desigualdades sociais.

No entanto, a proposta não foi recebida sem resistência. Setores do mercado financeiro e do empresariado manifestaram preocupação, alegando que a tributação de grandes fortunas e rendimentos pode desestimular investimentos e levar à fuga de capitais. Além disso, parte do Congresso Nacional, especialmente a bancada empresarial e setores do Centrão, se mostram contrários à iniciativa, temendo impactos nos grandes negócios e usando a proposta como moeda de troca política.

Esses argumentos, contudo, não devem sobrepor-se à necessidade urgente de um sistema tributário mais equitativo. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, e essa desigualdade se reflete em todos os aspectos da vida nacional, desde o acesso a serviços públicos até as oportunidades econômicas. É dever do governo trabalhar para que aqueles que têm mais contribuam proporcionalmente mais, enquanto os que têm menos sejam protegidos.

Essa reforma não é apenas uma questão de matemática fiscal, mas de justiça social. Ao aliviar a carga tributária sobre os trabalhadores e direcionar a cobrança para os que realmente podem pagar, o governo dá um passo importante para reduzir as diferenças abissais que dividem nossa sociedade.

Os desafios políticos e econômicos serão muitos, mas a história nos mostra que as grandes mudanças sempre encontram resistência. O essencial é que a proposta se mantenha fiel ao princípio de justiça fiscal e seja vista como um compromisso com o bem-estar da maioria, especialmente dos trabalhadores que sustentam a nação. É preciso coragem para romper com privilégios históricos e construir um país mais equilibrado e solidário. A classe trabalhadora merece, finalmente, ser tratada com a dignidade que lhe é devida.

 

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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