(*Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitario e poeta)
A prática de contratar funcionários temporários sob o argumento de “excepcional interesse público” em véspera de eleições é um retrato de como a gestão pública pode ser distorcida em benefício próprio. Sob o pretexto de urgência, prefeitos frequentemente utilizam essas contratações como moeda eleitoral, prometendo estabilidade que, na verdade, se dissolve logo após o pleito.
Esses atos configuram um evidente abuso de poder, comprometendo a ética administrativa e prejudicando tanto os contratados quanto o orçamento público. Quando as demissões ocorrem logo após o fechamento das urnas, fica claro o caráter eleitoreiro da ação, que desrespeita não apenas as leis, mas também a dignidade dos trabalhadores.
Curiosamente, muitos dos contratados entram nesse jogo cientes de que o emprego é temporário e atrelado à lógica eleitoreiraa, aceitam porque a necessidade fala mais alto: o desemprego, a falta de alternativas e a esperança de prolongar a situação levam à submissão. O sistema se alimenta dessas fragilidades, perpetuando um ciclo onde o trabalhador é reduzido a peça descartável e a máquina pública, a ferramenta de perpetuação do poder.
Ceder a essa condição é, para muitos, uma tentativa de sobrevivência. Mas é também um reflexo de um sistema que explora a vulnerabilidade social em benefício dos interesses de poucos. O verdadeiro interesse público exige planejamento e transparência, e não medidas paliativas que visam apenas perpetuar projetos de poder.
*Editorial do jornal Notícias da Manhã, da rádio Espinharas FM de Patos, em 10 de dezembro de 2024.