Braga Netto garantia o dinheiro e Cid transmitia as ordens à tropa. A mando de quem?

By | 15/12/2024 10:28 am

O próximo na hierarquia do golpe tem nome, cara e longo histórico antidemocrático

 

(Eliane Cantanhêde, colunista do Estadão, em 14/12/2024)

Foto do author Eliane CantanhêdeMesmo após a conclusão das mais de 800 páginas do inquérito sobre a a tentativa de golpe de Estado durante o governo Jair Bolsonaro, a Polícia Federal e o Supremo trabalham numa nova frente de investigação: a origem do dinheiro usado para a articulação e a execução do plano. “Do agro”, “do PL”? O famoso “Follow the money” de Watergate e de grandes operações policiais contra poderosos.

Foi exatamente pelo foco no dinheiro que a PF ameaçou cancelar os benefícios da delação premiada, exigiu novos depoimentos do tenente coronel do Exército Mauro Cid e chegou ao “homem da mala”: o general de quatro estrelas Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro em 2022, que agora entra para a história como primeiro general preso pós-redemocratização.

O ajudante de ordem, Tenente Coronel, Cid  (c), o  então presidente da Republica, Jair Bolsonaro e o então ministro da Casa Civil, Braga Netto, em cerimônia no Planalto
O ajudante de ordem, Tenente Coronel, Cid (c), o então presidente da Republica, Jair Bolsonaro e o então ministro da Casa Civil, Braga Netto, em cerimônia no Planalto Foto: Dida Sampaio/Estadão

Cid fazia a conexão entre os golpistas e Bolsonaro, enquanto Braga Netto providenciava os recursos para “kids pretos” (das Forças Especiais do Exército) matarem o então presidente eleito Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes, que presidia o TSE e neutralizou o esforço de Bolsonaro e dos golpistas para desacreditar as urnas eletrônicas.

No relatório já concluído da PF, a sequência é clara. Em 8 de novembro de 2022, mandantes e executores combinaram apresentar o plano operacional para prender ou matar Moraes. Em 9/11, esse plano, intitulado “punhal verde e amarelo”, ficou pronto, foi impresso no Planalto e levado ao Alvorada, onde estavam Bolsonaro e Cid. Em 12/11, os detalhes foram acertados por Cid e o major Rafael Martins de Oliveira com o general Walter Braga Netto, na casa deste. Do plano à ação.

Dois dias depois, 14/11, o major Oliveira perguntou a Cid: “Alguma novidade?”. Cid reagiu: “Eu que pergunto”. O major: “Vibração máxima! Recurso zero!”. E Cid: “Qual a estimativa de gastos? Falei para deixar comigo”. E Cid prometeu R$100 mil para despesas básicas da operação contra os três alvos.

“Todos os caminhos levam a Roma”, todas as investigações levam a Bolsonaro, em nome de quem Mauro Cid dava ordens de comando à tropa do golpe e Braga Netto garantia o dinheiro para matar o presidente eleito, o vice e o presidente do TSE. Ele é o primeiro general preso pós redemocratização. O próximo na hierarquia do golpe tem nome, cara e longo histórico antidemocrático.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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