O próximo na hierarquia do golpe tem nome, cara e longo histórico antidemocrático
(Eliane Cantanhêde, colunista do Estadão, em 14/12/2024)
Foi exatamente pelo foco no dinheiro que a PF ameaçou cancelar os benefícios da delação premiada, exigiu novos depoimentos do tenente coronel do Exército Mauro Cid e chegou ao “homem da mala”: o general de quatro estrelas Walter Braga Netto, ex-chefe da Casa Civil e vice na chapa de Bolsonaro em 2022, que agora entra para a história como primeiro general preso pós-redemocratização.
Cid fazia a conexão entre os golpistas e Bolsonaro, enquanto Braga Netto providenciava os recursos para “kids pretos” (das Forças Especiais do Exército) matarem o então presidente eleito Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes, que presidia o TSE e neutralizou o esforço de Bolsonaro e dos golpistas para desacreditar as urnas eletrônicas.
No relatório já concluído da PF, a sequência é clara. Em 8 de novembro de 2022, mandantes e executores combinaram apresentar o plano operacional para prender ou matar Moraes. Em 9/11, esse plano, intitulado “punhal verde e amarelo”, ficou pronto, foi impresso no Planalto e levado ao Alvorada, onde estavam Bolsonaro e Cid. Em 12/11, os detalhes foram acertados por Cid e o major Rafael Martins de Oliveira com o general Walter Braga Netto, na casa deste. Do plano à ação.
Dois dias depois, 14/11, o major Oliveira perguntou a Cid: “Alguma novidade?”. Cid reagiu: “Eu que pergunto”. O major: “Vibração máxima! Recurso zero!”. E Cid: “Qual a estimativa de gastos? Falei para deixar comigo”. E Cid prometeu R$100 mil para despesas básicas da operação contra os três alvos.
“Todos os caminhos levam a Roma”, todas as investigações levam a Bolsonaro, em nome de quem Mauro Cid dava ordens de comando à tropa do golpe e Braga Netto garantia o dinheiro para matar o presidente eleito, o vice e o presidente do TSE. Ele é o primeiro general preso pós redemocratização. O próximo na hierarquia do golpe tem nome, cara e longo histórico antidemocrático.