(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e poeta)
A relação entre ricos e pobres ao longo da história sempre foi marcada pela desigualdade, não apenas financeira, mas também social, política e cultural. Essa divisão, fundada em séculos de dominação e exploração, continua gerando um abismo de valores, de oportunidades e de humanidade.
A manutenção da distância entre as classes é intencional e cruel, não é um acaso. O sistema foi desenhado para manter os privilégios intocados, onde o acesso à educação, à cultura e até ao lazer é controlado para evitar que o pobre ameace o espaço do rico. É uma forma de perpetuar o status quo, de reafirmar que o pobre “deve saber qual o seu lugar”.
Na visão elitista, o pobre não deveria sequer ter energia para se divertir. Ele deve trabalhar, preferencialmente. Viver bem é luxo inalcançável. A vida do pobre é moldada para servir aos que o dominam. Para muitos ricos, o pobre é uma peça no sistema, não um igual.
Essa lógica excludente também se estende ao campo da educação. Pobre não pode frequentar as mesmas escolas que os filhos dos ricos, não pode sonhar com as mesmas profissões ou ocupar os mesmos espaços. A educação, na visão das elites, é um passaporte para o poder, e concedê-la ao pobre seria dar-lhe as ferramentas para mudar o sistema que o oprime.
Na sociedade construída pelo privilégio, o pobre é mantido invisível. Ele existe apenas como um ponto de comparação para justificar a superioridade do estilo de vida dos ricos. São estatísticas, para manter um sistema que oprime em nome do conforto de poucos.
Essa dinâmica não é nova. Desde a escravidão até os modelos modernos de trabalho precarizado, a exploração do pobre sempre foi mascarada como um mal necessário para o funcionamento da sociedade.
Há quem diga que há uma verdade desconfortável nessa relação: o rico não tolera o pobre, principalmente, porque carrega algo que o dinheiro não compra – a felicidade genuína. Como o pobre consegue viver com tão pouco e ainda encontrar alegria pra viver? Essa felicidade, que resiste às adversidades e às privações, incomoda as elites obrigando-as a ser mais cruel.
A luta contra a desigualdade é uma batalha por dignidade, por reconhecimento e por humanidade. Que, um dia, ninguém mais precise saber “qual o seu lugar” e todos possam compartilhar o mesmo espaço com respeito e igualdade. Mas, quando esse dia chegará?
*Editorial do jornal Notícias da Manhã, da rádio Espinharas FM de Patos, em 16 de dezembro de 2024.