Lula faz errado, mas sabe o que faz – Opinião do Estadão (confira comentário nosso)

By | 22/12/2024 7:54 am
Imagem ex-libris

A disputa do governo contra o mercado é fruto de cálculo político e diagnóstico equivocado sobre os erros petistas, deixa Haddad sozinho e contrata uma ruína econômica para o futuro

 

A rinha pública promovida pelo Palácio do Planalto produziu uma considerável destruição de riqueza, deixou feridas a serem cicatrizadas na segunda metade do mandato e despertou um debate intrigante sobre a origem e o efeito da resistência lulopetista. Mas hoje parece evidente: Lula sabe o que está fazendo ao dobrar a aposta contra o que ele e seus sabujos do PT definem como “Faria Lima”, hoje o símbolo de uma suposta conspiração das elites para prejudicar seu governo.

Se Lula o faz é porque acredita que isso lhe renderá dividendos políticos e eleitorais. Afinal, como se sabe, para o pensamento petista há algo muito mais importante do que o equilíbrio macroeconômico: votos. E porque tanto ele quanto o PT nada aprenderam com a história e com seus erros do passado – não só porque o lulopetismo ignora o fato de que é o equilíbrio macroeconômico que dá sustentação a qualquer governo no longo prazo, como também até hoje não compreendeu a origem e as consequências dos equívocos produzidos pela ex-presidente Dilma Rousseff.

O espírito da insensata queda de braço com o “mercado” é fruto de um diagnóstico errado daquela época. Até hoje a militância petista tem a mais plena convicção de que o impeachment de Dilma decorreu de uma ardilosa união das elites econômicas e políticas, da mídia e do Judiciário para frear os alegados avanços sociais promovidos pelos governos do PT. Segundo tal lógica, o erro da então presidente foi promover uma guinada na política econômica entre o primeiro e o segundo mandatos, quando, reeleita após uma campanha polarizada na qual acusou os adversários Aécio Neves e Marina Silva de planejarem um ajuste cruel com os pobres, Dilma escalou Joaquim Levy – um reconhecido fiscalista – para a Fazenda. Na visão do PT, era uma concessão indevida ao mercado, que a fragilizou politicamente diante da base do partido e gerou a ruína econômica.

Trata-se de uma evidente inversão de raciocínio. A guinada de fato foi oficializada, mas o PT trabalhou para implodir os planos do ministro, o ajuste fiscal prometido foi feito pela metade e o resultado tornou-se conhecido: a deterioração fiscal crescente que levou a um profundo desequilíbrio macroeconômico, a perda contínua de apoios de diferentes setores do Congresso e da economia, até culminar no caos e no impeachment de 2016. Dilma deixou o governo com uma crise da qual o Brasil levou anos para se recuperar.

A lição foi insuficiente porque o enredo está se repetindo – não com um forasteiro como Levy, mas com um petista de longa data, Fernando Haddad. A intensa artilharia do partido, com a evidente anuência de Lula, contra o que deveria ser a agenda econômica do governo deixou o ministro praticamente sozinho na Esplanada e na inglória tarefa de convencer investidores de que o governo se preocupa com as contas públicas.

À solidão de Haddad se soma outro problema: na cosmologia do partido e de Lula, ter um inimigo a quem culpar é o elemento preferencial para mobilizar militantes e conquistar votos. Inspirado nessa lógica pedestre, o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), por exemplo, galvanizou esse espírito ao pedir à Polícia Federal (PF) que investigue e puna a “Faria Lima”. No metaverso do PT, caberia à PF abrir inquérito para identificar responsáveis pela prática de crimes contra o mercado de valores mobiliários, sobretudo por meio da manipulação do câmbio.

Eis o delírio petista: as turbulências que afetaram o mercado nas últimas semanas nada têm a ver com a incapacidade do governo de convencer os investidores de que leva a sério a necessidade de um duro ajuste fiscal. Tampouco com a frustração diante das medidas fiscais anunciadas no início de dezembro. Pois petistas só acreditam num plano fiscal: culpar o mercado. Um método que pode até fazer a festa da militância, mas, para a economia, desabona o presente e arruína o futuro.

Comentário nosso – Lula certamente pensa fazer alguma jogada política. Isto é, premedita. Mas acho que vai quebrar a cara! (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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