(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no blog Polêmica Patos, em xx/01//2025
Em comentário feito no seu programa Notícias da Manhã, Misael Nóbrega falou sobre o pretenso preparo dos nossos vereadores para exercerem a sua função. Segundo ele muitos têm curso superior, mas colocou em dúvida o seu conhecimento técnico para exercerem a sua função de fiscalizar a administração pública, como se, de verdade, eles fossem exercer realmente esta função. Fez a ressalva de que não faz nenhuma discriminação com os que tem pouco estudo, mas que pelos menos devem ter um preparo mínimo para o exercício da função.
E aqui nós acrescentariamos. Vereador não precisa ser formado, mas deve ter capacidade para escolher bem os seus assessores que vão orientá-lo sobre os assuntos em discussão e votaçao, o que achamos até temerário, pois a maioria dos assessores são escolhidos, ou dentro das próprias famílias ou dentro dos seus cabos eleitorais. E muitas vezes estão menos preparados do que os próprios vereadores. E o vereador deve ter experiência para saber quais as opiniões dos seus assessores merecem ser seguidas ou não. Não pode nunca ser uma “Maria vai com as outras”, ou seja, sem opinião e deixando se levar pela opinião dos outros.
Há mais de trinta anos, tivemos a honra de participar da elaboração da Lei Orgânica do Municipio de Patos, na companhia do saudoso vereador Normando Salomão Leitão, na condição de assessores jurídicos, convidados pelo Presidente da Casa, o saudoso Abdias Guedes Cavalcante. Na discussão final das propostas das disposições finais, o vereador Petrônio Lucena propôs que a administração criasse um programa de bolsa-de-estudos para estudantes carentes frequentarem o Colégio Comercial Roberto Simonsen, onde se oferecia o curso de técnico em contabilidade, que naquela época permitia aos profissionais assinarem a escrita de pequenas empresas. Inicialmente, Petrônio Lucena, defendeu a sua proposta e, em seguida Chico Bocão, pediu a palavra e endossou a proposta de Petrônio, fazendo um discurso que “me deixou de boca aberta”. Chico lembrou que estudantes pobres precisavam daquela ajuda da administração, pois a escola cobrava mensalidades, que embora fossem módicas, não estava ao alcance dos mais carentes. E disse da importância da formação profissional para aqueles jovens, num mercado de trabalho tão carente como era o nosso.
Estamos lembrando o episódio, para mostrar a importância de vereadores, que mesmo com pouco estudo, como Chico, tinha sensibilidade para os problemas da população e sabia defender os seus interesses, o que o fez, melhor do que muitos outros nos onze mandatos que exerceu. Como lembrou Misael, não precisa ser formado, basta ter sensibilidade para os problemas da sociedade, saber sugerir soluções e saber defendê-las. Infelizmente, hoje, mesmo com tanta gente formada exercendo mandato de vereador, os nossos debates são muito pobres. E muitos se contentam em proferir um simples “apoiado” ou simplesmente balançar a cabeça diante das propostas alheias, sem acrescentar uma opinião que reforce a sua concordância com a aprovação do projeto.
Muita gente esnoba os vereadores, pensando que são meros puxa-sacos dos prefeitos, quando na realidade eles representam o segundo poder municipal e que depende deles a ocorrência ou não de uma boa adminstração. Sem bons vereadores, os prefeitos poderão roubar descaradamente o dinheiro público sem que ninguém os impeça de agirem desonestamente. Ou simplesmente não fazer nada ou “deixar as águas rolar”. Uma boa câmara é essencial para garantir uma boa administração municipal.