Tratamento VIP para o PCC

By | 17/01/2025 7:28 am
Imagem ex-librisO Ministério Público (MP) e a Polícia Civil de São Paulo deflagraram uma operação contra uma ONG e advogados suspeitos de atuarem no sistema prisional a serviço de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo as investigações, realizadas ao longo de três anos, eles garantiriam facilidades e regalias a bandidos em um presídio de segurança máxima.

Uma espécie de “plano de saúde do crime” proporcionava serviços a presidiários da Penitenciária II de Presidente Venceslau, no oeste paulista. Muito além das necessidades médicas, eram oferecidos também tratamentos estéticos, como clareamento dental. Tudo isso se deu em unidade gerenciada pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) do Estado mais rico do País, cujo governo se orgulha da linha dura contra o crime.

Conhecidos como integrantes da “Sintonia dos Gravatas”, os advogados eram responsáveis por levar à prisão médicos e dentistas para atender os condenados. Mesmo quando estavam em unidade com o Regime Disciplinar Diferenciado, mais conhecido como RDD e bastante temido pelos integrantes da facção, em virtude de sua rigidez, bandidos receberam até botox. Foi o caso, por exemplo, de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, principal líder do PCC.

Além de apurar o oferecimento desse atendimento articulado pelos “gravatas”, os investigadores também desnudaram a atuação da ONG Pacto Social & Carcerário – Associação de Familiares e Amigos de Reclusos. A entidade, com sede em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, teria sido criada sob demanda dos presos ligados ao PCC para fabricar denúncias de violações de direitos humanos, atacar agentes públicos e tentar mobilizar a opinião pública contra o Estado.

O trabalho da ONG foi tão bem-sucedido que alguns de seus integrantes participaram de um documentário que discute o sistema carcerário e seu impacto nas famílias dos detentos. O filme, disponível na Netflix, se chama O Grito, título que inspirou o nome da operação policial (“Scream Fake” – grito falso, em português) que cumpriu 12 mandados de prisão, entre eles contra os advogados e os falsos ongueiros.

Segundo o relatório do MP e da Polícia Civil, o PCC “invadiu a sociedade civil organizada e vem, agora, se apropriando de discursos politizados para fazer valer os seus interesses próprios”. Infelizmente, tal constatação pode colocar em dúvida o trabalho de entidades sérias que buscam melhores condições nas prisões e defendem os direitos de parentes de presos que não raro sofrem constrangimentos.

Está-se diante de uma nova estrutura do PCC, batizada de “Setor das Reivindicações” e que lembra um sindicato, nesse caso sustentado, sobretudo, por dinheiro do tráfico de drogas. Todo esse esquema só reforça a urgência de maior controle dos presídios, de onde, até hoje, líderes do PCC emitem ordens aos subordinados nas ruas para que dominem territórios, espalhem o terror e expandam o tráfico para mercados estrangeiros. O que não se sabia, e agora se sabe, é que no cárcere de “segurança máxima” tinham até tratamento VIP.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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