Como identificar um governo fraco como o de Lula 3

By | 20/01/2025 7:37 am

É possível entender o grau de fraqueza do presidente observando-se o tipo de liderança que ele exerce com base em critérios semelhantes aos que são usados para avaliar CEOs

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(Diogo Schelp *, no Estadão, em 19/01/2025)

A capitulação vexaminosa do governo Lula a uma lacração de internet – desistindo de adotar uma medida burocrática correta do ponto de vista técnico por puro medo da repercussão de um vídeo crítico feito por um histriônico deputado do baixo clero — foi avaliada de forma quase unânime pela classe política e por analistas como uma demonstração, ou mesmo uma prova, da fraqueza e inépcia política do presidente. Do ponto de vista da eficiência administrativa da Receita Federal e até dos cidadãos que declaram e pagam seus impostos corretamente, era mais do justificável determinar que bancos digitais e fintechs forneçam informações sobre operações de Pix e outros tipos de transações para evitar sonegação fiscal.

A falta de credibilidade da gestão Lula quando o assunto é arrecadação tributária, porém, tornou as versões da oposição sobre mudanças que poderiam afetar o Pix bastante verossímeis. É o mesmo motivo, aliás, que fez proliferar os memes que atribuíram em julho passado ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a pecha de taxador-mor da República, acompanhado do apelido “Taxadd”. Alguns governistas ficaram tão irritados que chegaram a sugerir a proibição da piada.

Os erros em série que levaram o governo a jogar a toalha com facilidade no episódio do Pix, sem qualquer embate político, e as razões de fundo dessa mais recente crise – a fama de ávido arrecadador de impostos do governo petista – não são as únicas evidências de que, em seu terceiro mandato, Lula é um presidente fraco. Há outros sinais que permitem identificar sua debilidade.

Lula, presidente da República
Lula, presidente da República Foto: Wilton Junior/Estadão

Na ciência política, a identificação de um governo fraco costuma ser feita com base na avaliação do funcionamento das instituições e do equilíbrio entre elas, do grau de corrupção, da qualidade dos serviços públicos, da existência de distúrbios sociais e da legitimidade das decisões que partem do Executivo, entre outros elementos. Tudo isso pode ser muito útil para analisar a debilidade do governo Lula. Um fato lembrado com frequência para mostrar o esvaziamento do poder presidencial em Lula 3 é o protagonismo crescente do Legislativo na destinação dos recursos do orçamento.

Para além das questões relacionadas ao arranjo institucional, é possível tentar entender o grau de fraqueza do presidente Lula observando-se o tipo de liderança que ele exerce em seu terceiro mandato com base em critérios semelhantes aos que são usados para identificar CEOs de empresas bem ou malsucedidos. Por essa abordagem, o placar também não é nada bom.

A primeira falha de liderança de Lula é a falta de um projeto para o País. Não apresentou nada parecido durante a campanha presidencial e tampouco nos últimos dois anos de governo. Ele diz que quer reduzir a pobreza, gerar empregos e proteger a democracia. Mas isso não é um projeto de país, isso é o feijão com arroz que qualquer governo deveria servir aos cidadãos. O segundo motivo pelo qual Lula falha como líder é o fato de ele acreditar que as supostas glórias do passado o tornam indispensável para os desafios do presente e do futuro. O bom líder apresenta resultados, em vez de ficar tentando justificar sua liderança por aquilo que fez ou desfez anos atrás.

O terceiro aspecto da fragilidade da presidência de Lula é sua arrogância. Líderes eficientes têm consciência de que não sabem de tudo, admitem erros e estão em constante aprendizado. Eles crescem junto com suas empreitadas. Já pessoas em funções de liderança fadadas ao fracasso costumam acreditar que o poder gira em função delas próprias. Elas agem e tomam decisões como se a medida do sucesso estivesse atrelada ao seu destino individual, não ao que irá acontecer com a organização ou com o país que elas comandam. A não ser que estejamos falando de um ditador em um regime personalista, esse é um dos ingredientes principais de uma liderança fraca. Lula tem como objetivo de governo obter um quarto mandato ou eleger um sucessor. Crescimento econômico e redução da pobreza são para ele um meio para atingir esse objetivo, não um fim em si mesmo. Tanto é assim que ele toma decisões de olho nos índices de aprovação popular e colocou seu marqueteiro eleitoral para comandar a comunicação do governo.

O quarto sinal de um líder fraco aparece quando sua perspectiva de poder se dissolve na mesma proporção em que ele reluta em abrir caminho para um substituto. As dúvidas sobre a saúde de Lula, especialmente após o acidente que lhe rendeu algumas passagens recentes pelo hospital, alimentam as suspeitas, em Brasília, de que sua carreira presidencial se aproxima do fim. E ele nunca estimulou de fato o protagonismo de outras lideranças políticas dentro do seu partido.

O quinto indício de um presidente fraco é a falta de coragem para defender com convicção suas posições e suas políticas, desde que estejam alinhadas com um projeto de país elaborado com racionalidade e transparência de propósitos. Essa coragem faltou a Lula no episódio do Pix e tem faltando também em retrocessos da chamada pauta de costumes que vêm avançando no Congresso sem resistência do governo. Refugiando-se na própria inércia e falta de visão política mesmo quando as taxas de popularidade se tornam desconfortáveis, Lula em seu terceiro mandato é um presidente vacilante, desbotado, fraco.

* Opinião por Diogo Schelp, jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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