O professor faz a diferença

By | 21/01/2025 1:48 pm
Imagem ex-librisO desempenho de 235 alunos de uma escola paraense que tiraram notas acima de 800 em redação no Enem (85 deles acima de 900), relatado em uma reportagem do Estadão, é um exemplo concreto da importância de bons professores. Não é exagero dizer que o interesse dos estudantes, sua formação intelectual e a capacidade de assimilar conhecimento dependem basicamente deles.

Foi por iniciativa do professor de português Demétrius Araújo, da Escola Estadual Anísio Teixeira, de Marabá, que os alunos do ensino médio passaram a aprender a redigir textos como se deve: acompanhando as correções, identificando os erros e descobrindo como torná-los mais coerentes, objetivos e coesos. E foi essa clareza de ideias que resultou no sucesso numa etapa decisiva do Enem. À primeira vista, parece ser o básico. E é.

As dificuldades da empreitada, porém, vêm do próprio sistema educacional adotado no País e ficam evidentes na descrição feita pelo professor de como passou a adotar a metodologia. Ele pediu autorização para usar um horário livre em sua planilha de aulas para fazer as correções e orientar os alunos. “Devido às circunstâncias, não são todos os professores de escola pública que fazem as correções dos textos, é um trabalho árduo. Tem alunos que chegam ao 3.º ano do ensino médio sem ter feito nenhum texto”, explicou Araújo, com a naturalidade de quem já se acostumou aos percalços da profissão.

Ser professor de ensino fundamental e médio no Brasil significa dividir a jornada de 40 horas semanais por diferentes escolas, muitas vezes complementar os baixos salários com aulas particulares, consumir uma parcela significativa do tempo no traslado entre unidades distantes e não contar com a solidez e perspectiva de um plano de carreira. A situação precária foi minando a atratividade do magistério e, como já disse a educadora Cláudia Costin, fez a opinião pública olhar para o professor com pena, e não com o respeito e a admiração que a profissão merece.

Medidas como a do Programa Mais Professores, anunciada recentemente pelo governo federal, podem ajudar a combater o desinteresse. A partir deste ano serão oferecidas bolsas mensais de R$ 1.050 a candidatos bem avaliados no Enem que escolherem cursos de licenciatura. Também haverá bolsas de R$ 2,1 mil para incentivar a transferência de professores para áreas com falta de docentes, especialmente nas Regiões Norte e Nordeste, onde alguns Estados registram déficit de mais de 60% para algumas disciplinas, embora não seja um problema isolado. Em São Paulo, Estado mais rico do País, por exemplo, o déficit de professores de física chega 63,3%, segundo dados do Inep.

O “Pé de Meia para Professores”, como o programa está sendo chamado, é uma boa iniciativa, mas insuficiente para solucionar um problema crônico. É preciso avançar muito mais na valorização da carreira de professor, com medidas de impacto em Estados e municípios. As disfunções graves pedem soluções urgentes e só assim casos como o da escola que recebeu o nome do criador do ensino público no País deixarão de ser uma notável exceção.

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *