Foi por iniciativa do professor de português Demétrius Araújo, da Escola Estadual Anísio Teixeira, de Marabá, que os alunos do ensino médio passaram a aprender a redigir textos como se deve: acompanhando as correções, identificando os erros e descobrindo como torná-los mais coerentes, objetivos e coesos. E foi essa clareza de ideias que resultou no sucesso numa etapa decisiva do Enem. À primeira vista, parece ser o básico. E é.
As dificuldades da empreitada, porém, vêm do próprio sistema educacional adotado no País e ficam evidentes na descrição feita pelo professor de como passou a adotar a metodologia. Ele pediu autorização para usar um horário livre em sua planilha de aulas para fazer as correções e orientar os alunos. “Devido às circunstâncias, não são todos os professores de escola pública que fazem as correções dos textos, é um trabalho árduo. Tem alunos que chegam ao 3.º ano do ensino médio sem ter feito nenhum texto”, explicou Araújo, com a naturalidade de quem já se acostumou aos percalços da profissão.
Ser professor de ensino fundamental e médio no Brasil significa dividir a jornada de 40 horas semanais por diferentes escolas, muitas vezes complementar os baixos salários com aulas particulares, consumir uma parcela significativa do tempo no traslado entre unidades distantes e não contar com a solidez e perspectiva de um plano de carreira. A situação precária foi minando a atratividade do magistério e, como já disse a educadora Cláudia Costin, fez a opinião pública olhar para o professor com pena, e não com o respeito e a admiração que a profissão merece.
Medidas como a do Programa Mais Professores, anunciada recentemente pelo governo federal, podem ajudar a combater o desinteresse. A partir deste ano serão oferecidas bolsas mensais de R$ 1.050 a candidatos bem avaliados no Enem que escolherem cursos de licenciatura. Também haverá bolsas de R$ 2,1 mil para incentivar a transferência de professores para áreas com falta de docentes, especialmente nas Regiões Norte e Nordeste, onde alguns Estados registram déficit de mais de 60% para algumas disciplinas, embora não seja um problema isolado. Em São Paulo, Estado mais rico do País, por exemplo, o déficit de professores de física chega 63,3%, segundo dados do Inep.
O “Pé de Meia para Professores”, como o programa está sendo chamado, é uma boa iniciativa, mas insuficiente para solucionar um problema crônico. É preciso avançar muito mais na valorização da carreira de professor, com medidas de impacto em Estados e municípios. As disfunções graves pedem soluções urgentes e só assim casos como o da escola que recebeu o nome do criador do ensino público no País deixarão de ser uma notável exceção.