Respeitar o Orçamento não é opcional (confira comentário nosso)

By | 24/01/2025 8:28 am

Criado no ano passado, o Pé-de-Meia consiste na formação de uma poupança para os alunos do ensino médio da rede pública que sejam beneficiários do Cadastro Único para Programas Sociais. O objetivo do MEC é incentivar a permanência desses estudantes em sala de aula durante toda essa fase da aprendizagem. Comprovadas matrícula e frequência escolar, o aluno recebe um pagamento mensal de R$ 200. Ao final de cada ano letivo concluído, recebe mais R$ 1 mil de bônus, além de um adicional de R$ 200 por participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Como se vê, é um programa de interesse público, razão pela qual o governo, se crê em seu valor, como se supõe, deveria ser o primeiro a lutar por sua inclusão no Orçamento, negociando no Congresso a priorização do Pé-de-Meia sobre outros gastos públicos.

Instituído pela Lei no 14.818/24, o Pé-de-Meia tem sido financiado com recursos do Fundo de Custeio da Poupança de Incentivo à Permanência e Conclusão Escolar para Estudantes do Ensino Médio (Fipem), que por sua vez é composto por aportes administrados pela Caixa Econômica Federal, sendo os da União os mais vultosos. Em boa hora, o Ministério Público junto ao TCU advertiu que “a legislação que criou o programa permite à União transferir recursos a esse fundo, porém ela não permite que o pagamento dos incentivos aos estudantes com recursos depositados no Fipem se dê à margem do Orçamento”. O procurador Lucas Furtado ainda alertou que “essa prática está travestida de um fundo privado a fim de se manter tangente às regras das finanças públicas”, vale dizer, insubmissas ao controle republicano dos gastos do governo pelo Poder Legislativo.

Eis a essência da democracia. Recursos públicos, oriundos da tributação de cidadãos e empresas, devem ser destinados ao financiamento de políticas voltadas ao progresso humano, social e econômico de uma nação. Em suma, ao bem comum. O debate em torno de quais políticas atendem ou não a esse imperativo – e, portanto, são dignas dos recursos dos contribuintes – deve ser travado pela sociedade por meio de seus representantes eleitos, com absoluta transparência, espírito público e senso de prioridade, pois dinheiro não dá em árvore. Quando governos buscam meios exóticos para financiar suas ações, sem submetê-las a esse crivo republicano, acabam por mascarar o real estado dos gastos públicos e por abastardar a própria democracia representativa.

Em justiça ao atual governo, deve-se registrar que Lula da Silva não é o único que tem o cacoete de driblar o Orçamento quando lhe convém. Jair Bolsonaro fez letra morta de decisões judiciais definitivas ao dar calote no pagamento dos precatórios e furou o teto de gastos ao menos duas vezes em um ano para aumentar o pagamento do Auxílio Brasil e da ajuda financeira a caminhoneiros e taxistas, para citar apenas dois outros exemplos recentes de desrespeito gritante à peça orçamentária. Não é assim que se governa uma República democrática.

O TCU teve o cuidado de não se imiscuir no mérito do programa Pé-de-Meia, haja vista que a formulação de políticas públicas, evidentemente, é prerrogativa dos Poderes Executivo e Legislativo. Mas a Corte de Contas lançou luz sobre mais uma manobra sub-reptícia que, ao fim e ao cabo, rebaixa o Orçamento a uma burocracia qualquer. Se o governo Lula da Silva trata o cumprimento do Orçamento como mera formalidade que, a depender de suas conveniências, pode ser ignorada, alguém haveria de lembrá-lo do contrário. E que bom para o País que o TCU o tenha feito, resguardando não apenas a higidez das finanças públicas, como também a própria materialização da democracia consubstanciada na peça orçamentária.

Comentário nosso – Quando vai estipular o juro sobre um empréstimo, o banco considera a confiança que pode depositar naquele cliente. Por isso, o juro do consignado é mais barato. Por que ele tem a garantia do governo que é quem faz o desconto diretamente do benefício do devedor. Da mesma maneira age o investidor. Quanto mais confiança mereça o credor, mais barato o juro com que ele se satisfará. Se o Governo Brasileiro não respeita nem o seu orçamento, quem for lhe emprestar dinheiro vai cobrar o juro mais alto possível e aí a nossa dívida externa  e interna vai crescer cada vez mais. (LGLM)

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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