Derrotado nas duas últimas eleições para prefeito por pai do favorito à presidência da Câmara, oposicionista critica empreguismo de rival
Com poder político e influência crescentes na Paraíba, a família do deputado federal Hugo Motta (Republicanos) tem em Patos, seu reduto político no sertão do estado, uma oposição que segue em direção oposta, decrescente.
O principal líder opositor é o ex-juiz Ramonilson Alves (PSDB). Na última eleição, em 2024, ele teve 22,3% dos votos, contra 73,7% de Nabor Wanderley Filho (Republicanos), pai de Hugo Motta. Reeleito, Nabor comanda a cidade pela quarta vez (os dois primeiros mandatos foram de 2005 a 2012).
Na eleição anterior, em 2020, os dois também eram os principais candidatos, mas a disputa foi bem mais acirrada: Nabor venceu com 51%, contra 41% de Ramonilson.
A provável eleição de Hugo Motta como presidente da Câmara é o ápice da influência de sua família, que em Patos está no poder, direta ou indiretamente, desde os anos 1950 (à exceção de pequenos períodos). A última vez que a oposição venceu na cidade foi em 2016, com Dinaldo Wanderley Filho (o Dinaldinho), primo de Nabor, cujo pai (Dinaldo Wanderley) comandou o município de 1997 a 2004 e é tido como o derradeiro rival forte do clã de Hugo Motta.
Ilanna Mota, mãe de Hugo e filha de Francisca, que era chefe de gabinete da prefeitura, foi presa na ocasião e solta após cinco dias. As ações do Ministério Público Federal contra as duas por esse caso terminariam consideradas improcedentes ou extintas pela Justiça.
Mas, à semelhança do que se passou com Francisca, Dinaldinho também não concluiu o mandato, afastado pela Justiça após acusações de corrupção –pavimentando a volta do pai de Hugo Motta ao poder.
“Inegavelmente, o elemento dinheiro foi o que ao final desequilibrou o processo eleitoral”, afirma Ramonilson sobre as suas derrotas para Nabor.
Destacando sua própria origem (“meu pai era um pequeno comerciante que antes foi mecânico de carro, minha mãe era feirante”), o ex-juiz atribui a ascensão de Hugo Motta menos a méritos próprios que ao poder de seus antepassados.
“Nasceu num berço confortável financeiramente, e isso facilitou muito a sua trajetória. Conseguiu fazer medicina numa instituição privada. Foi eleito uma primeira vez por força desse suporte econômico, e o que a gente vislumbra é um perfil de quem nunca trabalhou. Não rima com uma história de estudo ou trabalho”, diz Ramonilson.
Quando juiz, ele condenou Nabor Wanderley por contratação irregular de servidores –depois revertida pelo pai de Hugo. Dar emprego na prefeitura mesmo sem concurso para angariar apoio político é, segundo o opositor, uma das chaves para a perpetuação do grupo no poder. Já os Motta Wanderley acusam Ramonilson de ter usado a magistratura para persegui-los politicamente.
Assim como em Brasília, onde Hugo Motta deverá ser eleito presidente da Câmara por uma ampla coalizão da esquerda à direita, no Legislativo patoense seu grupo político também nada de braçada. Dos 17 vereadores da Câmara Municipal, apenas 1 faz oposição à gestão de Nabor Wanderley –o bolsonarista (e monarquista) Josmá Oliveira (MDB).
“Você tem que ter coragem. Eles não mandam matar ninguém, não tenho medo. Mas podem tentar comprar”, diz Negreiros, que atribui a demissão de familiares de cargos na prefeitura à sua posição.
Ele também já foi processado pelo prefeito Nabor Wanderley, que o acusa de ser não um jornalista independente, mas um opositor.
Nas ruas de Patos, que tem 108 mil habitantes, os partidários dos Motta Wanderley dizem que, sob a liderança política da família, a cidade se desenvolveu muito nas últimas décadas.
“Esse pessoal que está tomando conta de Patos, como Naborzinho, dona Francisca Motta e Hugo Motta, tem sido extraordinário para toda a região. Até 1990, nossa região era apagada. Quando Edivaldo Motta [avô materno de Hugo] e Francisca [viúva dele] entraram, houve um avanço muito grande”, afirma o agricultor Francisco de Assis Marinho Leite, 66.
Ele minimiza o afastamento de Francisca pela Justiça e as denúncias e ações judiciais contra a família. “Não provaram nada. Depois veio Naborzinho e passou por cima de tudo. E [a eleição de] Hugo [à presidência da Câmara] vai ser nota mil para a cidade e para a região.”
“Se olhar quanta verba federal já entrou nessa cidade…Muito dinheiro para pouca coisa. O dinheiro some e a obra não é terminada. Eu assisto isso há anos, por isso que desisti da política. Hoje, se eu vir um político passar na rua, eu atravesso. Para mim um político e cachorro é a mesma coisa.”
E o que acha de ter Hugo Motta, um filho da terra, na presidência da Câmara? “Para mim tanto faz. Não vivo às custas dele. A Constituição diz que o cidadão tem direito à educação, saúde e segurança. Isso é pago com dinheiro do povo. Só que direito do pobre é muito pouco”, disse o mototaxista, morador do bairro Itatiunga, queixando-se de que dias antes tinha ido a um posto médico e não conseguiu ser atendido porque o médico tinha entrado de férias.