Só o convite feito a Gleisi representa mais do que a disposição do presidente em ter no Palácio uma petista radical, dando musculatura adicional a um grupo no qual se inclui o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha – isso num momento em que se esperaria de Lula e do PT um maior compartilhamento do poder com outros partidos que formam a coalizão governista. Se ministra for, Gleisi pode tornar-se ainda um símbolo de mais um constrangimento imposto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Afinal, ela tem sido um ruidoso e virulento contraponto a Haddad e a qualquer premissa de responsabilidade fiscal. Coube a ela liderar o levante petista contra o próprio governo, aprovando um documento do partido que classificou a política fiscal de “austericídio” – uma pressão que, com a chancela do presidente Lula, desmontou qualquer esforço do ministro da Fazenda e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, de pôr ordem nas contas do governo.
O arsenal de Gleisi é vasto e vai além dos ataques a Haddad. A ex-ministra da Casa Civil de Dilma Rousseff costuma funcionar como uma espécie de braço retórico armado de Lula da Silva. É nessa condição que frequentemente despeja declarações furiosas contra o Banco Central (pelo menos enquanto a instituição era presidida pelo inimigo preferencial dos petistas, Roberto Campos Neto), o mercado financeiro, o mundo corporativo, o agronegócio, o Congresso, a direita (inclusive a direita que não se enquadra no bolsonarismo fundamentalista), Israel, os evangélicos, a imprensa profissional e, agora, o presidente dos EUA, Donald Trump. Por outro lado, revela-se uma afável defensora de Nicolás Maduro, de Cuba e do Partido Comunista Chinês – aos quais costuma bajular enviando missões do PT ou indo pessoalmente para trocas que decerto geram dividendos políticos à esquerda de linhagem lulopetista e constrangimento ao restante do Brasil.
Com tais atributos, resta entender a natureza do convite feito por Lula a um nome que afrontou, desautorizou e deslegitimou seu ministro da Fazenda, mesmo sabendo que inexiste na história um governo forte com um ministro da Fazenda fraco; que Gleisi exibe um modus operandi de guerrilha contra tudo e contra todos que poderiam inspirar o governo a um padrão mínimo de racionalidade e eficiência; e que a presidente do PT tem como único mérito a defesa implacável de Lula, na alegria e na tristeza. Eis aí a natureza da possível escolha: agradar à esquerda do PT e resolver um problema do partido. Instalar Gleisi numa pasta do governo significa tirar dela o comando do processo eleitoral que escolherá, no fim de junho, o novo presidente do partido. O favorito de Lula, o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, é visto por Gleisi como um nome indesejável. O defeito de Edinho, na visão de Gleisi, é ser moderado, ter bom trânsito no mercado financeiro e em outros partidos e ser próximo de Haddad. Uma vez ministra, ela deixará o posto que ocupa desde 2017, substituída por um mandato-tampão até a eleição petista.
Eis aí uma artimanha tipicamente lulista – para o bem do PT e a ruína do País.
Comentário nosso – A esperança que ainda nos restava é que as opiniões de Haddad prevalecessem sobre as loucuras poliqueiras doPT. Mas a presença de Gleisi, comandante da área “pourra louca” do partido, destruriá as esperanças que ainda subsistiam. Talvez o caminho fosse mesmo o “impeachment” de Lula, para Alckmin fazer valer a tranquilidade de que o país precisa. Pena que seja tão remota a possibilidade de “impeachment”. (LGLM)