Assim como Bolsonaro, Lula vai se submeter ao Centrão?

By | 03/02/2025 9:38 am

Centrão dá o tom na eleição para os presidentes das Casas legislativas e deixa governo Lula em posição delicada

(Carlos Pereira, Cientista político e professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) e sênior fellow do CEBRI., no Estadão, em 02/02/2025)

Foto do autorA eleição para os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado foi, por um lado, livre de surpresas. Todos sabiam que o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) seriam eleitos com grande folga. Mas, por outro lado, gerou um cenário cheio de incertezas para o governo Lula no legislativo.

Lula foi “obrigado” a engolir as candidaturas de Motta e de Alcolumbre e a sua participação no processo foi meramente confirmatória da preferência dominante do Legislativo, incorporada pelos partidos do Centrão.

Davi Alcolumbre foi eleito presidente do Senado e Hugo Motta, escolhido para presidir a Câmara
Davi Alcolumbre foi eleito presidente do Senado e Hugo Motta, escolhido para presidir a Câmara Foto: Wilton Junior/Estadão

Por que o Executivo teve um papel tão marginal na eleição de peças-chave no Legislativo que pode interferir diretamente na sua própria governabilidade?

Lula perdeu o timing da reforma ministerial. Se tivesse agido antes da eleição dos presidentes das Casas legislativas, e feito uma ampla reforma ministerial que contemplasse as demandas dos seus parceiros de coalizão do Centrão, teria os comprometido ex ante com o governo e, fatalmente, teria tido uma maior influência neste processo eleitoral.

Como podemos observar na última coluna da tabela abaixo, são justamente os parceiros de coalizão do Centrão que têm sido sub-recompensados pelo governo. A diferença entre o peso político de cada partido, medido pelo número de cadeiras no Legislativo, e o número de ministérios ocupados, tem sido amplamente desfavorável para os parceiros do Centrão.

Enquanto o PT é largamente recompensado (com 30,33% mais ministérios do que o seu peso político na Câmara), todos os parceiros do Centrão são desproporcionalmente sub-recompensados com menos ministérios (PP -6,60%; Republicanos -5,43%; União -3,81%; PSD -0,50%; e MDB -0,50%).

Esta escolha de gerência de coalizão, com uma alocação de desproporcional poder entre os parceiros, historicamente adotada pelo PT, tem gerado uma coalizão numericamente majoritária (350 cadeiras na Câmara), mas paradoxalmente, que não se comporta de forma congruente e disciplinada com os interesses do governo no Congresso.

Uma eventual reforma ministerial será, no máximo, de “contenção de danos”… em um contexto de vulnerabilidade política de Lula tanto no Legislativo como na sociedade.

Ao passar o “rolo compressor”, o Centrão demonstrou quem de fato tem o poder de barganha. Se o governo não contemplar adequadamente seus interesses, Lula não apenas correrá o risco de perder o PSD de Gilberto Kassab como seu aliado, mas também os demais partidos do Centrão. E, o que seria ainda pior, de esses partidos passarem a jogar o jogo de oposição, mesmo dentro no governo.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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