PF diz que deputados cobravam 25% de propina sobre emendas no Maranhão; veja diálogos (confira comentário nosso)

By | 08/02/2025 5:48 am

Mensagens interceptadas pela PF mostram esquema usado para desviar dinheiro de emendas destinadas à Saúde na cidade de São José de Ribamar (MA); Estadão não conseguiu contato com os parlamentares

(André Shalders, no Estadão, em 07/02/2025)

Um relatório sigiloso da Polícia Federal detalha como funcionava uma suposta operação de venda de emendas parlamentares por parte de três deputados federais do PL: Josimar Maranhãozinho (MA); Pastor Gil (MA) e Bosco Costa (SE). Os recursos eram destinados à área da saúde no município de São José de Ribamar (MA), na região metropolitana da capital maranhense, São Luís. Segundo a PF, a quadrilha da qual os deputados faziam parte cobrava a devolução de um quarto (25%) dos recursos.

Estadão não conseguiu contato com os parlamentares na noite desta sexta-feira (07).

Investigado sub suspeita de venda de emendas, Josimar Maranhãozinho foi alvo de operação no ano passado.
Investigado sub suspeita de venda de emendas, Josimar Maranhãozinho foi alvo de operação no ano passado. Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Os nomes dos três deputados e detalhes da investigação já haviam sido revelados pelo Estadão em outubro o ano passado. Na época, o jornal mostrou como funcionava a atuação de agiotas e corretores no esquema.

Ao portal g1, o deputado Pastor Gil disse que aguarda o julgamento do caso pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e que está “confiante de que os esclarecimentos apresentados conduzirão ao reconhecimento da inocência”. Nesta semana, o relator do caso, o ministro Cristiano Zanin, liberou a denúncia contra os três parlamentares para julgamento na Primeira Turma do STF.

Na investigação, a Polícia Federal focou em três emendas parlamentares destinadas ao município, que somam R$ 6,7 milhões. Desse total, ao menos R$ 1,6 milhão foi cobrado pela quadrilha como propina à prefeitura de São José de Ribamar – no Congresso, essa parcela é às vezes chamada de “volta”.

Nas mensagens recolhidas pela PF, há a menção a reuniões entre os parlamentares, cobranças de pagamentos de comissões e marcação de agendas com várias autoridades do então governo de Jair Bolsonaro (PL), no ano de 2022, ao qual se referem a maioria das conversas.

Mensagem de Josimar Maranhãozinho reproduzida no relatório da PF: corporação diz que parlamentar chefiava quadrilha de cobrança de propina sobre emendas
Mensagem de Josimar Maranhãozinho reproduzida no relatório da PF: corporação diz que parlamentar chefiava quadrilha de cobrança de propina sobre emendas Foto: DPF / Reprodução

As investigações tiveram início quando o então prefeito, Eudes Sampaio, contou à polícia ter sido procurado pelo agiota Josival Cavalcanti da Silva, o Pacovan. Ao se recusar a pagar as parcelas, Eudes passou a receber ameaças – contra si e contra familiares. O caso foi enviado ao STF em junho de 2021, e atualmente tramita sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin.

“Constatou-se, de forma segura, a existência de mensagens existentes no celular do Deputado Josimar – mantidas com os demais congressistas (Pastor Gil, Bosco Costa) e outros investigados (Pacovan) – sobre a forma de desvio das emendas parlamentares e da eventual “cobrança” dos gestores municipais que não aderissem à organização criminosa”, diz um trecho do relatório da PF.

A dinâmica do esquema supostamente operado por Maranhãozinho, Pastor Gil e Bosco Costa, mostrada pelo Estadão em outubro do ano passado, foi confirmada com a divulgação do inquérito da PF em reportagem da TV Globo nesta sexta-feira,7. O Estadão obteve uma cópia do arquivo de 294 páginas.
No material apreendido pela PF, há também recibos de pagamentos via PIX para autoridades
No material apreendido pela PF, há também recibos de pagamentos via PIX para autoridades Foto: DPF/reprodução

Segundo as investigações da PF, o deputado Josimar Maranhãozinho agia como líder do grupo. Ele “está à frente da estrutura criminosa, capitaneando não somente a destinação dos recursos públicos federais oriundos de emendas (próprias e de outros parlamentares comparsas) para os municípios, mas também orientando a cobrança (utilizando, inclusive, de estrutura operacional armada), ao exigir dos gestores municipais a devolução de parte dessas verbas”, diz um trecho.

Um assessor dele, João Batista de Magalhães, atuaria como uma espécie de “corretor” de emendas, se utilizando de “servidores públicos para obter informações sobre andamentos de pagamentos de emendas parlamentares destinadas a Municípios do Estado do Maranhão, remunerando-os como forma de agradecimento”. Ainda segundo a PF, o assessor seria próximo ao empresário Eduardo José Barros, o Eduardo DP ou Eduardo Imperador, sócio da empreiteira Construservice e alvo da PF em novembro de 2023, em outra investigação sobre emendas.

Comentário nosso – A cobrança de uma comissão sobre as emendas parlamentares não é nenhuma novidade. A diferença é que antigamente os deputados e senadores cobravam das empresas que iam construir as obras financiadas com o dinheiro das emendas. Eu mesmo assisti um deputado cobrar sua comissão de uma empresa, há uns vinte e cinco anos atrás. No início a comissão era mais gananciosa, em torno de dez por cento. Mas depois passaram a cobrar valores escandalosos. Numa fiscalização a uma construtora que estava atrasando o salário dos seus empregados, um dos sócios atribuiu o atraso ao fato de terem lhe cobrado de uma vez só, os vinte e cinco por cento da comissão na liberação da primeira parcela. A novidade agora é que os deputados estão cobrando diretamente dos prefeitos beneficiados pela emenda e nos escandalosos vinte e cinco por cento. É por isso que tem tanto deputado que não ganhou na loteria, não recebeu herança, nem casou com mulher rica, “nunca deu um prego em uma barra de sabão” e está podre de rico. Razão pela qual, hoje gastam milhões para se eleger. Político pobre não tem mais vez de se eleger. Mas se por um milagre conseguir, vai enricar ligeiro. É por isso que está havendo esta briga toda defendendo as emendas parlamentares, enfrentando até o Supremo Tribunal Federal. Com a emenda compra os votos dos prefeitos e ainda cobram uma parte como comissão ou propina, como queiram chamar. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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