Ao minimizar 8 de janeiro, Hugo Motta cria problema para si mesmo e para o país, ainda que penas tenham sido exageradas
Os parlamentares que são eleitos para presidir a Câmara dos Deputados e o Senado tornam-se magistrados. Sua missão principal deixa de ser a de atuar como representantes dos eleitores e passa a ser a de coordenar os trabalhos das Casas.
Isso fica muito claro na disposição dos regimentos internos, determinando que os presidentes não votem em matérias legislativas, exceto em duas situações: em escrutínios secretos ou em caso de empate, quando ganham o superpoder de decidir a questão.
A ideia é isolar tanto quanto possível o comando das duas Casas de posições políticas mais explícitas, que poderiam dificultar a tarefa de quem está encarregado de arbitrar as disputas que possam surgir no processo.
Alcolumbre começa melhor do que Motta, que criou um problema para si mesmo ao afirmar que não considera o 8 de janeiro uma tentativa de golpe de Estado. Com tal declaração, ele conseguiu agradar à base bolsonarista, mas indispôs-se com os governistas, parte do centro e da direita não bolsonarista e também com o Supremo Tribunal Federal.
Em termos mais práticos, a fala de Motta fez com que aumentasse a pressão para que ele paute a votação de projetos de lei que podem beneficiar Bolsonaro.
Se algum desses textos avançar, podemos esperar várias crises, dentro e fora do Parlamento. Qualquer medida dessa natureza será judicializada, criando a possibilidade de confronto entre o STF e o Legislativo.
E, se faltou sabedoria política a Motta para evitar essa armadilha, algo semelhante pode ser dito dos ministros do Supremo.
Ao contrário do que sugere o discurso da direita radical, a corte não veio para cima dos bolsonaristas como um Robespierre com sede de vingança. Mais de cinco centenas dos denunciados pelo Ministério Público por envolvimento no 8/1 assinaram acordos de não persecução penal e foram liberados com sanções quase simbólicas.
Alguns dos que foram condenados, entretanto, amargaram penas de 17 anos, francamente um exagero, em especial quando se considera que nenhum deles pode ser descrito como o cabeça do movimento golpista.
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