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Suedna Barbosa Carneiro, conhecida na favela de Paraisópolis como “Mainha do Crime”, estava em casa quando foi presa. No local, os policiais apreenderam armas, celulares e máquinas de cartão de crédito, além de capacetes e mochilas de aplicativos de entrega que seriam usadas como simulacros pelos criminosos a serviço da tal “Mainha”.
Entre os suspeitos de fazer parte da quadrilha estão os dois motociclistas que mataram Vitor no entorno do Parque do Povo, com o intuito de roubar seu celular, sem que a vítima sequer esboçasse reação. A bem da verdade, como se viu pelas imagens de câmeras de segurança da região, o ciclista nem teve tempo de ver a aproximação dos criminosos.
Aos policiais, Suedna, uma velha conhecida da polícia, de acordo com delegado Marcel Druziani, titular do 11.º DP, confessou o crime de receptação, mas negou ter participação na morte de Vitor e de outras vítimas de latrocínio em São Paulo, um crime que, como mostrou o Radar da Criminalidade do Estadão, aumentou mais de 20% na capital paulista em 2024, em comparação com o ano anterior.
Em que pese o fato de a Polícia Civil ter feito – e bem – o seu trabalho de identificar e prender uma suspeita de patrocinar a prática de um dos crimes mais aterrorizantes que há, o latrocínio, uma pergunta inquieta este jornal e decerto muitos paulistanos. Haja vista a ficha criminal da “Mainha do Crime”, por que esta mulher estava solta?
Trata-se de uma dúvida que também paira sobre outro crime horroroso ocorrido na capital paulista há poucos dias, o espancamento de uma senhora de 67 anos por dois homens em uma moto que queriam roubar sua aliança de casamento. Um dos bandidos, identificado como Shymada Freitas Rocha, tem “vasto histórico de crimes dessa natureza”, de acordo com uma nota da Polícia Civil. Não obstante suas condenações por crimes violentos, desde ao menos 2023, Shymada já não cumpria pena em regime fechado.
O sistema de segurança pública, para ser eficaz, há de operar, evidentemente, como um todo orgânico. Mais bem dito: não adianta a polícia prender criminosos que, em que pese a gravidade dos delitos de que são acusados, logo são liberados em audiências de custódia por uma filigrana qualquer. De que adiantam condenações pesadas se fatores psicossociais e criminológicos são mal avaliados pelo Judiciário no momento de decisão sobre a progressão dos regimes de cumprimento de pena?
O crime prospera quando grassa a impunidade. Ao flexibilizar a execução das penas e permitir que criminosos perigosos retornem às ruas sem uma análise criteriosa do risco que representam à sociedade, o Judiciário compromete a eficácia do trabalho policial e, sobretudo, a segurança dos cidadãos.