Avaliação é de que zerar a alíquota de importação sobre carne, café e açúcar teria pouco efeito porque o Brasil é o maior produtor desses itens e formar estoques reguladores neste momento elevaria ainda mais preços
Economistas ouvidos pelo Estadão consideram as medidas anunciadas pelo governo nesta quinta-feira, 6, inócuas e poucos relevantes para conter a inflação de alimentos no curto prazo.
Como exemplo, ele cita a zeragem da alíquota de importação da carne, do café, e do açúcar. O Brasil, observa, é o maior produtor mundial desses itens. Portanto, é muito difícil ter um volume significativo disponível para importar desses produtos no mercado, mesmo com a alíquota de importação zerada.
“Só a zeragem da alíquota de importação sobre as massas alimentícias teria algum efeito”, avalia. Também o óleo de palma, que terá uma cota de importação de 150 mil toneladas, Hausknecht diz que os preços do produto estão em alta hoje no mercado externo e, mesmo com a redução da tributação, não haveria um alívio no preço.

“As medidas são pouco relevantes”, afirma o economista Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências. Ele ressalta que a questão inflacionária da comida está ligada a fatores estruturais de oferta e demanda, cuja solução está ligada aumento da área de plantio e da produção que ocorrem o longo prazo. Além disso, lembra que fatores climáticos e do próprio ciclo de produção, no caso da carne, afetam as safras.
Uma das medidas proposta pelo governo, o fortalecimento dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foi avaliada por Hausknecht como ineficaz neste momento.
Para formar estoques reguladores, o governo tem de entrar comprando produtos, o que eleva os preços de mercado. Num contexto de cotações em alta, isso impulsionaria a inflação. “É mais fácil falar do que fazer”, diz ele.
Também para Hausknecht, nada, à primeira vista, terá efeito significativo sobre a inflação. Campos Neto, da Tendências, acredita que esse pacote de medidas reflete muito mais as pressões que o governo vem sofrendo pela queda de sua popularidade que está sendo corroída pela alta da inflação da comida, que afeta sobretudo a população de menor renda.
‘Controle de gastos teria maior impacto’
O economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo Souza Júnior, prevê impacto modesto das medidas anunciadas pelo governo.
Para ele, a solução mais efetiva contra a inflação de alimentos continua sendo o ajuste fiscal, já que, ao controlar os gastos, o governo estimula menos o consumo. Ao mesmo tempo, diz, contribui para melhorar a percepção do mercado sobre os rumos das contas públicas, levando assim a uma apreciação cambial.
Como o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, de modo que depende pouco de importações, a avaliação é de que zerar o imposto de produtos comprados do exterior não vai contribuir de forma significativa ao objetivo de conter a inflação dos alimentos.
“As reduções de alíquotas de importação são medidas positivas, mas devem ter pouco impacto na inflação. O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos, e nossa pauta de importações de alimentos é pequena e concentrada em poucos produtos”, diz Souza Júnior. Pelo mesmo motivo, ele não prevê perdas relevantes na arrecadação do governo.
Comentário nosso – Embora não seja economista, acho que o fato de sermos um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, a zeragem das alíquotas de importação não vão produzir efeito significativo. Talvez a importação de café, principalmente da Argentina, Uruguai e Paraguai, resulte em alguma redução de preços. Nos outros índices o efeito será mínimo. Como lembram alguns economistas uma redução dos gastos públicos seria muito mais efetivo. Só que, do ponto de vista eleitoral, provocaria mais prejuízo ao partido do Governo e tornaria mais difícil uma pretensa tentativa de reeleição de Lula. E ninguém se engane esta é a maior preocupação de Lula. Os brasileiros que se ferrem. (LGLM)