Alíquota zero para importar carne, café, açúcar e massas vai baixar o preço? Economistas respondem (confira comentário nosso)

By | 07/03/2025 8:52 am

Avaliação é de que zerar a alíquota de importação sobre carne, café e açúcar teria pouco efeito porque o Brasil é o maior produtor desses itens e formar estoques reguladores neste momento elevaria ainda mais preços

(Márcia De Chiara com Eduardo Laguna, no Estadão, em 06/03/2025)

Economistas ouvidos pelo Estadão consideram as medidas anunciadas pelo governo nesta quinta-feira, 6, inócuas e poucos relevantes para conter a inflação de alimentos no curto prazo.

José Carlos Hausknecht, economista da MB Agro, diz que, em uma avaliação preliminar, as medidas não terão efeito significativo sobre a oferta de alimentos nos próximos meses. “Algumas não vão ter impacto nem no longo prazo”, ressalta.

Como exemplo, ele cita a zeragem da alíquota de importação da carne, do café, e do açúcar. O Brasil, observa, é o maior produtor mundial desses itens. Portanto, é muito difícil ter um volume significativo disponível para importar desses produtos no mercado, mesmo com a alíquota de importação zerada.

“Só a zeragem da alíquota de importação sobre as massas alimentícias teria algum efeito”, avalia. Também o óleo de palma, que terá uma cota de importação de 150 mil toneladas, Hausknecht diz que os preços do produto estão em alta hoje no mercado externo e, mesmo com a redução da tributação, não haveria um alívio no preço.

Medidas anunciadas pelo governo nesta quinta-feira, 6, tentam frear o avanço da inflação de alimentos
Medidas anunciadas pelo governo nesta quinta-feira, 6, tentam frear o avanço da inflação de alimentos Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

“As medidas são pouco relevantes”, afirma o economista Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências. Ele ressalta que a questão inflacionária da comida está ligada a fatores estruturais de oferta e demanda, cuja solução está ligada aumento da área de plantio e da produção que ocorrem o longo prazo. Além disso, lembra que fatores climáticos e do próprio ciclo de produção, no caso da carne, afetam as safras.

Estoques reguladores

Uma das medidas proposta pelo governo, o fortalecimento dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foi avaliada por Hausknecht como ineficaz neste momento.

Para formar estoques reguladores, o governo tem de entrar comprando produtos, o que eleva os preços de mercado. Num contexto de cotações em alta, isso impulsionaria a inflação. “É mais fácil falar do que fazer”, diz ele.

Já em relação ao estímulo na produção de itens da cesta básica no Plano Safra, o economista da MB Agro ressalta que os dois itens principais da cesta básica, o arroz e o feijão, estão com preços em queda no momento. Portanto, a medida seria inócua e tem o foco voltado para a próxima safra. “O Plano Safra é para o que será plantado ainda.”

Também para Hausknecht, nada, à primeira vista, terá efeito significativo sobre a inflação. Campos Neto, da Tendências, acredita que esse pacote de medidas reflete muito mais as pressões que o governo vem sofrendo pela queda de sua popularidade que está sendo corroída pela alta da inflação da comida, que afeta sobretudo a população de menor renda.

‘Controle de gastos teria maior impacto’

O economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo Souza Júnior, prevê impacto modesto das medidas anunciadas pelo governo.

Para ele, a solução mais efetiva contra a inflação de alimentos continua sendo o ajuste fiscal, já que, ao controlar os gastos, o governo estimula menos o consumo. Ao mesmo tempo, diz, contribui para melhorar a percepção do mercado sobre os rumos das contas públicas, levando assim a uma apreciação cambial.

“O que teria mais impacto para reduzir a inflação de alimentos seria a adoção de medidas efetivas de controle dos gastos públicos, que conteria o crescimento da demanda e ajudaria a valorizar o real”, comenta o economista, que dirigiu por mais de cinco anos o departamento responsável por estudos e políticas macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Como o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, de modo que depende pouco de importações, a avaliação é de que zerar o imposto de produtos comprados do exterior não vai contribuir de forma significativa ao objetivo de conter a inflação dos alimentos.

“As reduções de alíquotas de importação são medidas positivas, mas devem ter pouco impacto na inflação. O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos, e nossa pauta de importações de alimentos é pequena e concentrada em poucos produtos”, diz Souza Júnior. Pelo mesmo motivo, ele não prevê perdas relevantes na arrecadação do governo.

Comentário nosso – Embora não seja economista, acho que o fato de sermos um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, a zeragem das alíquotas de importação não vão produzir efeito significativo. Talvez a importação de café, principalmente da Argentina, Uruguai e Paraguai, resulte em alguma redução de preços. Nos outros índices o efeito será mínimo. Como lembram alguns economistas uma redução dos gastos públicos seria muito mais efetivo. Só que, do ponto de vista eleitoral, provocaria mais prejuízo ao partido do Governo e tornaria mais difícil uma pretensa tentativa de reeleição de Lula. E ninguém se engane esta é a maior preocupação de Lula. Os brasileiros que se ferrem. (LGLM)

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Category: Blog Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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