A crise do PT interessa ao Brasil

By | 12/03/2025 8:32 am
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O Brasil não passará incólume à profunda crise que abate o PT. A fissura da legenda, levada ao paroxismo no conflito aberto entre os morubixabas que integram a sua principal corrente, envolve a sucessão de Gleisi Hoffmann na presidência do partido, posto que ela ocupava desde 2017. Não está em jogo, porém, apenas a escolha de um nome para presidir o partido – se fosse só isso, não teria a menor importância. Quem suceder a Gleisi, contudo, também dirá muito sobre a bússola que orientará o futuro imediato do partido do presidente Lula da Silva. É nessa condição que é preciso reconhecer: o que acontece hoje no PT interessa muito ao restante do País, porque os rumos do partido decerto afetarão os rumos do governo Lula.

Nesses oito anos, coube a Gleisi não só liderar o partido durante o calvário enfrentado por petistas ante a Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão do presidente Lula da Silva. Ela também esteve no epicentro de alguns dos principais conflitos envolvendo o PT, contribuindo enormemente não para a pacificação e a reconstrução de um país fraturado, e sim para a continuidade da polarização. Ela foi uma defensora incansável de posições radicalmente opostas ao que se esperava para um governo de frente ampla. Com seus ataques à política econômica, muitos dos quais em golpes abaixo da cintura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Gleisi fez do PT um caso único no mundo: o partido do presidente e líder da coalizão governista é aquele que primeiro e mais enfaticamente se opõe a iniciativas do próprio governo – uma oposição a si mesmo.

Agora ministra, Gleisi se opõe duramente a outro petista, até aqui tido como favorito para lhe suceder: Edinho Silva, ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara. Conhecido como um político moderado e conciliador, além de próximo a Haddad e ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ele tem protagonizado o que poderia ser impensável até pouco tempo atrás: um petista que admite problemas e fragilidades do seu partido e abertamente defende mudança de rumos na legenda.

Como se sabe, petistas costumam viver numa espécie de metaverso, uma realidade própria na qual convivem a convicção das próprias virtudes, a transferência para terceiros de culpas e fracassos que deveriam ser creditados a si mesmos e a mitificação exacerbada dos poderes supostamente sobrenaturais de seu maior líder. Edinho Silva ainda padece do pecado da santificação de Lula, mas ao menos vem apontando o óbvio: o País (e, claro, o seu partido) precisa sair da armadilha da polarização e da radicalização. Não é exagero, portanto, enxergá-lo como a grande chance de um imprescindível aggiornamento do PT e, por consequência, da esquerda tradicional brasileira.

Mas o ex-prefeito vem sendo sabotado – e sob as barbas de Lula, que até aqui demonstrou apoio a Edinho Silva. Conflitos internos são comuns a partidos, e especialmente ao PT, onde há 45 anos convivem infinitas correntes que se digladiam na disputa pelo poder. Mas desta vez o conflito ganhou contornos de guerrilha. A combustão petista atingiu o auge no vazamento de uma reunião na casa de Gleisi, na qual Lula foi chamado a ouvir sobre a resistência de dirigentes ao nome de Edinho Silva. O grupo de Gleisi apresentou nomes alternativos: o deputado José Guimarães (CE), o ex-ministro José Dirceu (SP), o senador Humberto Costa (PE) e Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula.

Não é preciso pensar muito para reconhecer que tais nomes estão aquém dos desafios do partido, além de simbolizarem tudo o que a maioria dos brasileiros não deseja hoje: um PT (e o governo Lula, por consequência) mais radical e mais à esquerda. Mas o problema, ao que consta, não se resume à divergência de ideias e destino do partido. A tesouraria petista, hoje nas mãos de uma aliada de Gleisi, é um dos pomos da discórdia. Nem Gleisi nem Edinho abrem mão do controle do cargo, responsável pela gestão dos milionários recursos do fundo eleitoral – no ano passado, o PT recebeu quase R$ 620 milhões.

Nessa disputa por poder e dinheiro, não se sabe se o PT finalmente se atualizará e fará o governo Lula mudar de rumo, ou se permanecerá atrelado ao populismo arcaico do demiurgo petista, que se julga intérprete de um povo que não existe mais.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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