Candidato a deputado federal, ex-ministro da Casa Civil reúne mundo político de Brasília em festa de aniversário, cobra defesa do presidente para enfrentar crise e chama a atenção para o fator Tarcísio em 2026
Saudado como “comandante” em sua festa de aniversário, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) abriu nesta terça-feira, 11, a temporada de avisos para a campanha a deputado federal, em 2026. Ao comemorar 79 anos, Dirceu fez um discurso cheio de alertas: disse que o governo Lula está “sitiado”, cobrou sustentação política dos partidos aliados e afirmou que setores da direita começam a “dormir com o inimigo”.
Passava um pouco de 21 horas quando Dirceu subiu em um tablado montado dentro de um bar-restaurante de Brasília para dizer que era preciso “cerrar fileiras” em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Para vencer as eleições de 2026, nós temos que governar agora. E todos aqui sabem que nós governamos em minoria”, disse o ex-presidente do PT. “Por que o Brasil está nessa crise permanente de crescimento de voo de galinha?”, perguntou. Ele mesmo respondeu: “Por causa da concentração de renda, da estrutura tributária e do capital financeiro hegemônico”.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já havia deixado o salão quando Dirceu discursou. Haddad teve uma passagem relâmpago pela festa: cumprimentou o ex-ministro, posou para selfies e foi embora. “Eu vim aqui só para tirar foto”, brincou.
Diante desse clima, Dirceu tratou de pedir que os partidos aliados mudassem sua visão para entender “o mundo em que vivemos” hoje.
“Quando se fala do terceiro governo do presidente Lula, estamos falando de um governo sitiado por uma conjuntura internacional, que nos impõe (como reação) a aliança política com todos aqueles que defendem a soberania, a democracia e esse estado de bem-estar social”, afirmou o ex-ministro da Casa Civil.
Na sua avaliação, a soberania do Brasil “está ameaçada” por bolsonaristas que viajam para “pregar a traição nacional e a intervenção dos Estados Unidos e das bigh techs nos assuntos internos”. Embora não tenha citado o nome do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Dirceu não deixou dúvidas sobre quem falava. “O momento que vivemos no mundo é um momento em que os tambores da guerra estão batendo, como na década de 20/30. O fascismo e a extrema direita vão tomando o governo de vários países”, insistiu.
Logo em seguida, o ex-ministro mostrou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é um alvo sobre o qual o PT deve prestar atenção para a disputa de 2026.
Lula tem feito reuniões reservadas com o ex-chefe da Casa Civil e quer que ele ajude a puxar votos para a bancada do PT. Outra preocupação do presidente diz respeito ao sucessor de Gleisi Hoffmann no partido. Escolhida para ser ministra e cuidar da interlocução política do Palácio do Planalto com o Congresso, Gleisi deixou o comando do PT com o senador Humberto Costa, interino no cargo.
O candidato de Lula para a eleição que vai renovar a cúpula do partido, em 6 julho, é o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, mas ele tem enfrentado resistências em sua própria corrente, a Construindo um Novo Brasil (CNB). O pano de fundo da briga envolve a chave do cofre do PT, uma vez que o ex-prefeito quer mudar a tesouraria.
Edinho marcou presença na festa de Dirceu e pediu apoio. “Ele é o candidato do presidente Lula e eu sou ministro do presidente Lula. Apoio quem o presidente apoia”, resumiu Haddad, sem querer entrar no mérito da disputa interna no PT. “Não sei se é tanto assim”, desconversou.
Na hora da festa, animada por sucessos da MPB, como “Caçador de Mim” e “Sá Marina”, Gleisi estava reunida com líderes de partidos do Centrão. Telefonou para Dirceu e desejou-lhe felicidades.
O ex-chefe da Casa Civil completa 79 anos no próximo domingo, 16, mas decidiu antecipar o calendário. Neste sábado, 15, haverá outra comemoração para ele, desta vez em São Paulo, em um galpão usado pelo Movimento dos Sem-Terra (MST).
Em conversa com amigos, Dirceu perguntou o que achavam de mandar fazer um boné com a inscrição “Zé 2026″. Não durou muito para mudar de ideia: “Eleição é só no ano que vem, né?”