Com alguma descrença, construída pelo exemplo, desapropriar o Hotel será repetir lá o que vemos em dezenas de espaços públicos na PB: abandono.
(Angélica Nunes e Laerte Cerqueira, no Jornal da Paraíba, em 08/04/2025)

Nos últimos dias, a discussão sobre o futuro do Hotel Tambaú voltou às rodas de conversa. O tema é polêmico e gera audiência. Tem opinião de todo tipo.
O motivo da debate é a sinalização do desejo de alguns legisladores e gestores públicos de desapropriar o hotel.
Já tem projeto de lei apresentado na Câmara, tem decreto assinado. Mas até agora, nada avançou.
A compra em um leilão está sendo questionada e o caso já está nas cortes superiores.
Explicado o contexto, a pergunta concreta é: desapropriar para quê?
Há várias sugestões: fazer o centro turístico, um aquário público, uma escola de gastronomia, um espaço de lazer comunitário, um feirinha de artesanato, uma vila gastronômica.
Há quem defenda até derrubar tudo para fazer um grande largo, estilo Marco Zero, no Recife.
A ideias são ótimas se não colidissem frontalmente com a própria realidade da gestão pública paraibana.
Falamos gestão porque entram e saem gestores e os avaços são miúdos, lentos e provincianos.
Nenhuma grande intervenção que nos coloca além do óbvio (a exceção parece que será o Polo Turístico Cabo Branco, com uma Avenida Boulevard pública, mas ladeada por investimentos privados, que turbinam o projeto).
Com alguma descrença, construída pelo exemplo, desapropriar o Hotel será repetir lá o que vemos em dezenas de espaços públicos na Paraíba: abandono, falta de manutenção, reformas que nunca acabam, ambientes que fecham e nunca abrem, paisagismo precário, estruturas de segurança se deteriorando.
Exemplo
Só para ficar no exemplo de João Pessoa, temos o que deveria ser a PRINCIPAL área turística da cidade praticamente entregue ao tempo, para não dizer abandonada: um complexo que inclui o Farol do Cabo Branco, a Estação Ciência, a Estação das Artes, mirante e toda aquela bela área ao redor.
Um lugar que poderia se tornar um grande parque ecológico, sem ruas asfaltadas, sem avenidas, com espaço para lazer, contemplação, esporte, trilhas. O quase abandono daquela área é criminoso.
Não há solução para a erosão. Nada é feito de maneira decente para entregar aquele espaço aos moradores da cidade e aos turistas.
Mas esse é só um exemplo para lembrar que não temos eficiência suficiente para assumir outro “elefante”.
O mais eficiente, neste momento, é trabalhar para a destravar a disputa judicial. Contribuir e acompanhar o trabalho de quem arrematou esse que já foi o símbolo do turismo desta cidade.
O Tambaú, quase dentro do mar, emblemático. Há quem condene esse simbolismo porque o empreendimento se tornou exemplo de crime ambiental, de acordo com leis e percepção desse tipo de obra nos dias atuais.
Não havia lei nem pensamentos nessa linha na década de 1970, quando foi inaugurada. Mas essa é uma outra discussão.
Desapropriar seria mais um investimento público perdido pela incapacidade de criarmos atrações sustentáveis e duradouras, que ultrapassem uma eleição e durem mais do que um mandato.