Anistia ou conveniência?*

By | 10/04/2025 11:24 am

(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e poeta, em 09/04/2025)

Nos últimos dias, muito tem se falado sobre o projeto de anistia que a direita brasileira quer colocar em Tramitação na Câmara dos Deputados. Porém, é preciso ir além do barulho das redes sociais, das manifestações organizadas e da pressão política para que isso ocorra. Por exemplo, conhecer que tipo de anistia está sendo proposta e a quem ela realmente interessa.

Para começar, precisamos entender que o episódio que se tornou símbolo de toda essa discussão — o da mulher que escreveu com batom numa estátua no 8 de janeiro — não está sendo julgado apenas pela frase revanchista: “Perdeu, mané”. E sim como parte de uma ruptura institucional, uma invasão coordenada e violenta aos Três Poderes da República.

E a lei é clara quanto a isso: atos que atentam contra o Estado Democrático, contra a ordem constitucional e contra os poderes instituídos são crimes graves e devem ser julgados como tal.

As anistias do passado, como a que marcou o fim da ditadura militar, foram fruto de um momento de transição delicado e, em muitos casos, concedidas a quem lutou contra o autoritarismo, mesmo que por meios extremos. Agora, o que se discute é uma anistia para quem agiu contra a democracia, tentando, com violência, calar as urnas e negar a vontade popular. Uma inversão perigosa.

Segundo pesquisas recentes, a maioria da população reprova os atos do 8 de janeiro e não apoia a ideia de anistiar quem participou da depredação. Apesar disso, líderes da direita tentam politizar o caso, transformando os envolvidos em “mártires da liberdade”, numa narrativa que ignora o peso dos fatos e o respeito ao Estado Democrático de Direito.

As manifestações nas ruas com discursos inflamados e faixas pedindo anistia, têm como objetivo confundir a opinião pública, pressionar deputados indecisos e conseguir apoio internacional. E sim, essas manifestações podem interferir na decisão de admissibilidade do projeto, sobretudo num ano pós-eleitoral na Câmara, onde o deputado Hugo Mota (Republicanos) foi conduzido ao cargo de presidente da mesa diretora com o apoio de quase a unanimidade dos votos.

Cabe ao Congresso, especialmente ao presidente da Câmara, resistir à pressão de todos os lados para não deixar que a sua decisão pese mais do que a coerência com a Constituição Federal. Não se pode anistiar um ataque à democracia em nome da conveniência política. Isso abriria um precedente: o de que se pode tentar destruir a ordem democrática e, depois, sair ileso — desde que se grite alto o suficiente nas ruas ou nas redes sociais.

Em tempos de incerteza é preciso reafirmar valores, como o próprio Hugo Mota o fez quando se seu discurso de posse, pois a democracia não pode ser negociada, sob qualquer pretexto. Não vá afrouxar, presidente!

*Editorial do jornal Notícias da Manhã da rádio Espinharas FM de Patos 97.9 em 9 de março de 2025.

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *