Casos já revelados da Operação Overclean, do ex-ministro e agora denunciado Juscelino Filho e dos deputados do PL transformados em réus começam a expor as entranhas do orçamento secreto; se as investigações continuarem, será apenas o começo
E assim o Brasil caminha para a explosão de um escândalo de corrupção generalizado na comercialização de recursos Brasil afora. Os primeiros casos já pipocam daqui e dali, mas outros virão. E é por isso que tem gente no meio político dizendo que estamos à beira de uma ‘Lava Jato’ das emendas.
Foi na Overclean que apareceu o nome de Elmar Nascimento, um dos homens-fortes do Centrão, o que levou a apuração ao STF, nas mãos de Kassio Nunes Marques. Elmar nega qualquer irregularidade, mas a suspeita é sobre uma emenda enviada à Prefeitura de Campo Formoso, administrada pelo irmão do deputado. A PF encontrou mensagens sobre encontros entre o prefeito e o empresário que venceria a licitação. No mesmo encontro estava o superintendente da Codevasf, indicado por Elmar Nascimento para comandar a empresa pública ligada ao Ministério da Integração Nacional.
A rainha dos recursos do orçamento secreto, a Codevasf, segue sendo expandida, muito além de seu foco inicial. Foi criada para garantir o desenvolvimento da região dos vales do São Francisco e do Parnaíba, mas hoje vai muito mais longe do que as águas dessas bacias alcançam. São 15 Estados, incluindo Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba e até o Amapá, do cacique do União Brasil e presidente do Congresso Davi Alcolumbre, um dos pais do orçamento secreto e quem mais se esforçou para ampliar sua atuação até atingir 37% dos território brasileiro.
Em outra frente, uma figura também conhecida pelo bom trânsito na Codevasf, o deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA), está encalacrada. Ele, o também parlamentar Pastor Gil (PL-MA) e o hoje suplente Bosco Costa (PL-SE) foram transformados em réus pelo STF também por suspeitas de desvio de emendas. Mas neste caso, que está nas mãos do relator Cristiano Zanin, eles são acusados de organização criminosa e corrupção passiva pela suposta negociação de emendas da área da saúde em troca de cobranças de propina. Eles também sempre negam as irregularidades.
Com o esforço gigante do Congresso em blindar parte das emendas, atribuindo-as aos líderes a ou às comissões para ocultar o verdadeiro autor, a suspeita sobre o que foi destinado nos últimos anos ganha ainda mais força. É, como apontou a Transparência Brasil, a perpetuação do orçamento secreto, que dribla parte relevante das decisões do ministro Flávio Dino sobre o tema.
Com um escândalo de proporções gigantescas prestes a se abater sobre o Parlamento, e em meio aos embates do Legislativo com o Judiciário e da profunda dependência do Executivo para com as duas Casas do Congresso, a grande dúvida é o quanto algum tipo de concertação pode acabar servindo, involuntariamente ou não, para abafar as apurações sobre uma desconfiança cada vez mais viva sobre o uso indevido do orçamento brasileiro. Depois do que vimos com a Lava Jato original, não seria de se surpreender.
Comentário nosso – São por demais evidentes as provas de que há desvios de dinheiro na destinação de verbas pelos parlamentares para Estados, municípios e demais entidades que recebem recursos federais. Não existe outra explicação para o fato de um candidato a deputado federal ou senador gastar cinco ou dez milhões de reais para se eleger. O que ele ganha de “salários, rendimentos ou subsídios” durante os quatro anos, não justifica os gastos que ele enfrenta para se eleger e, além disso para ficar rico. Nós temos exemplos bem próximos de gente que nunca trabalhou, não recebeu herança, não desenterrou botija e nem tirou na Mega Sena e vinte anos depois de entrar na política é dono de um patrimônio de cem ou duzentos milhões de reais. Não tem negócio melhor no mundo do que ser deputado ou senador no Brasil. Sem falar em prefeitos e governadores. Temos prefeito na região que malbaratou a herança que os pais lhe deixaram, chegou numa prefeitura “puxando uma cachorra” e hoje é milionário. Antigamente, verbas que conseguiam para os municípios rendiam votos. Hoje tem deputado que carreia milhões para um município e não recebe nem mil votos naquele município. Por que? Por que ao invés de votos, recebeu propinas. (LGLM)