Má formação é risco a pacientes; faculdades por vezes parecem prezar mais pela quantidade de matriculados do que pela qualidade do ensino
(Antonio José Gonçalves, Presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), na Folha, em 11/04/2025)
A má qualidade dos cursos de medicina no país impacta o sistema de saúde e o atendimento adequado aos pacientes. A saúde brasileira enfrenta um grande desafio: a má formação médica. Uma das principais causas é a educação oferecida atualmente pelas escolas de medicina, que por vezes parecem prezar mais pela quantidade de matriculados do que pela qualidade de ensino.
Foi aprovada em dezembro de 2024, no Senado, a aplicação de um exame ao término da faculdade de medicina, apelidado de “OAB da Medicina”. O texto ainda precisa ser aprovado em outras instâncias, como a Câmara dos Deputados, mas preconiza a criação de um exame de proficiência para os novos médicos do país —que entrará em vigor um ano após a sua eventual aprovação— apenas para novos egressos dos cursos de medicina. O exame vai avaliar diferentes competências, em âmbitos teóricos e práticos.
Atualmente, há mais de 400 escolas médicas espalhadas pelo país, a segunda maior quantidade do mundo —só fica atrás da Índia, nação que tem uma população mais de seis vezes maior que a brasileira.
A abertura de inúmeros cursos é irresponsável, pois formam-se aproximadamente 40 mil jovens todos os anos e só há vagas para 20 mil residentes. Neste cenário, muitos formandos nem buscam fazer residência, seja pela alta concorrência, baixa remuneração ou necessidade de pagar o financiamento estudantil ao término do curso, levando-os a começar a trabalhar rapidamente para quitar suas dívidas —em vez de aprimorar seus conhecimentos.
Um médico com formação ruim onera o serviço de saúde como um todo, pois pode demorar mais para chegar a um diagnóstico e até mesmo solicitar exames desnecessários, o que gera altos custos tanto para o indivíduo quanto para o sistema, desperdiçando recursos.
O projeto de lei foi criado para garantir que os atendimentos médicos continuem sendo feitos com qualidade, visto que o número de profissionais formados está cada vez maior e a qualidade do ensino, questionável. A Associação Paulista de Medicina (APM) defende capacitar os estudantes e acompanhar a qualidade da formação médica, que, nos últimos anos, vive uma grave crise.
Comentário nosso – A maioria das escolas particulares de Medicina são verdadeiras arapucas. Se o aluno tem interesse, ainda pode aprender alguma coisa. E conhecemos bons profissionais formados em escolas particulares. Mas um “filhinho de papai” que nunca se interessou por nada, só está visando um diploma para arranjar um bom emprego e um bom casamento. Só aprende alguma coisa se quiser, pois escola particular nenhuma vai reprovar um aluno que lhe garante mais de cem mil reais por ano só de mensalidade. A realização do “exame de ordem” ia mostrar a qualidade dos novos médicos formados tanto nas faculdades públicas como nas particulares. (LGLM)