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(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 15/04/2025)
“A má qualidade dos cursos de medicina no país impacta o sistema de saúde e o atendimento adequado aos pacientes. A saúde brasileira enfrenta um grande desafio: a má formação médica. Uma das principais causas é a educação oferecida atualmente pelas escolas de medicina, que por vezes parecem prezar mais pela quantidade de matriculados do que pela qualidade de ensino.
Foi aprovada em dezembro de 2024, no Senado, a aplicação de um exame ao término da faculdade de medicina, apelidado de “OAB da Medicina”. O texto ainda precisa ser aprovado em outras instâncias, como a Câmara dos Deputados, mas preconiza a criação de um exame de proficiência para os novos médicos do país —que entrará em vigor um ano após a sua eventual aprovação— apenas para novos egressos dos cursos de medicina. O exame vai avaliar diferentes competências, em âmbitos teóricos e práticos.
Atualmente, há mais de 400 escolas médicas espalhadas pelo país, a segunda maior quantidade do mundo —só fica atrás da Índia, nação que tem uma população mais de seis vezes maior que a brasileira.
Somente nos últimos dez anos, foram colocados em funcionamento 190 estabelecimentos de ensino médico, número igual ao de escolas abertas ao longo de dois séculos. A imensa maioria das novas faculdades não atende a critérios básicos para a formação do aluno, como a existência de leitos do SUS para a prática médica, programas de residência, hospital de ensino e corpo docente qualificado —já que não há o tempo necessário para a qualificação, levando em conta que, ao todo, a formação em medicina, englobando graduação, residência e especialização (mestrado ou doutorado), costuma levar entre 10 e 12 anos, em média.
O governo federal também contribui com o sucateamento do ensino da medicina ao ceder à pressão econômica de grandes grupos educacionais, autorizar o funcionamento de novos cursos privados de má qualidade junto ao programa Mais Médicos e interferir na Comissão Nacional de Residência Médica para aumentar, de forma inconsequente, o número de “especialistas” no país.
Um médico com formação ruim onera o serviço de saúde como um todo, pois pode demorar mais para chegar a um diagnóstico e até mesmo solicitar exames desnecessários, o que gera altos custos tanto para o indivíduo quanto para o sistema, desperdiçando recursos.
Em meio a circunstâncias tão graves, a melhor forma de minimizar suas consequências seria aplicar um exame de proficiência obrigatório para egressos das escolas de medicina, nos moldes do realizado para futuros advogados. O Exame Nacional de Proficiência em Medicina visa balizar o conhecimento adquirido pelo médico durante a graduação.”
Comentário nosso – O que ouvimos é a opinião de Antonio José Gonçalves, Presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), na Folha, em 11/04/2025. A maioria das escolas particulares de Medicina são verdadeiras arapucas. Se o aluno tem interesse, ainda pode aprender alguma coisa. E conhecemos bons profissionais formados em escolas particulares. Mas um “filhinho de papai” que nunca se interessou por nada, só está visando um diploma para arranjar um bom emprego e um bom casamento. Só aprende alguma coisa se quiser, pois escola particular nenhuma vai reprovar um aluno que lhe garante mais de cem mil reais por ano só de mensalidade. A realização do “exame de ordem” irá mostrar a qualidade dos novos médicos formados tanto nas faculdades públicas como nas particulares. (LGLM)