Educação mais distante do futuro

By | 17/04/2025 9:21 am

Censo Escolar mostra que o número de alunos no ensino médio técnico cresceu só metade do previsto, reafirmando o anacronismo de um país que ainda trata a modalidade como menos importante

 

Imagem ex-libris
O Censo Escolar 2024, divulgado na semana passada pelo Ministério da Educação (MEC), revelou um conjunto de dados que, conforme o humor e a paciência de quem os observa, podem ser vistos positiva ou negativamente. No perfil educacional radiografado pelo Censo, sobressaem-se avanços bem-vindos, como o crescimento das matrículas do ensino médio integral nas escolas públicas, e recuos preocupantes, como a queda de matrículas no ensino básico como um todo e, em particular, na educação infantil. Ou, ainda, uma soma de boas e más notícias numa só etapa, como o maior número de crianças matriculadas em creches combinado com a longa distância que ainda separa o Brasil das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE).

Não é preciso mau humor ou impaciência, contudo, para constatar aquele que talvez seja o mais eloquente retrato do abismo que persiste entre o desejo de um país transformado pela educação, dotado de condições propícias para o seu desenvolvimento, e a realidade dos fatos. Como o Estadão destacou ao retratar o novo Censo Escolar, o número de alunos no ensino médio técnico atingiu apenas metade, ou 49,6%, do que a meta previa para o meio desta década. Em 2014, o PNE estipulava que a educação profissional e tecnológica de nível médio deveria triplicar até o ano passado, chegando a 4,8 milhões de matrículas. Mas não passamos de 2,4 milhões de matrículas. Com a marca, o País chegou a 13,1% dos estudantes de ensino médio cursando o ensino técnico. É muito pouco diante das evidências de que a educação profissional e tecnológica configura um dos principais investimentos de países ricos em seus sistemas de ensino.

A média, por exemplo, dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade conhecida como o “clube dos países desenvolvidos”, é de cerca de 40%. Há países, como Alemanha e Finlândia, que exibem números ainda maiores: 49% e 68%, respectivamente. A boa notícia é que, ao menos na intenção, o ministro da Educação, Camilo Santana, está mirando no padrão dos países ricos (“o nosso desejo é colocar o Brasil nos patamares dos países da OCDE, é ousadia minha?”, afirmou, ao comentar os dados do Censo). A má notícia é que parece haver timidez em excesso na busca de meios para tornar concreta a ambição. Convém reconhecer que há boas iniciativas em curso no âmbito do MEC, mas é hora de acelerá-las, sob pena de o Brasil não só se acostumar à timidez dos avanços incrementais, como também desperdiçar oportunidades num mundo que, mais do que nunca, requer mão de obra qualificada e especialização técnica.

O ensino técnico e profissionalizante, como este jornal não cansa de sublinhar, significa pavimentar o caminho de jovens e futuros profissionais – e, consequentemente, o País – para melhores oportunidades. É o mais ancorado à atual revolução tecnológica que virou o setor produtivo do avesso. Reduz desigualdades, eleva os salários de quem traz no currículo a formação técnica e empurra a economia para a frente ao melhorar a produção e a competitividade, como informam as boas experiências dos países ricos. Há tempos países como Alemanha e Suíça adotaram o que especialistas chamam de “sistema de aprendizagem”, no qual a educação se desenvolve de forma articulada com o trabalho.

O Brasil habituou-se, porém, a estigmatizá-lo como uma modalidade menor de ensino ou mera alternativa ao ensino universitário. Entre nós sempre imperaram o preconceito contra o ensino técnico e a cultura bacharelesca. O próprio MEC historicamente glorificou os diplomas universitários, não raro ajudando a difundir a ideia de que sucesso é ter esse certificado. Sem esquecer os efeitos danosos das correntes marxistas – que, durante muitos anos, dominaram o pensamento acadêmico brasileiro – segundo as quais a formação técnica não passa de um mecanismo burguês para manter a alienação das massas trabalhadoras. E assim se criou uma falsa dicotomia que associa formação acadêmica a ofícios intelectuais e a formação técnica a trabalhos braçais. Se já era duvidosa no século passado, no século da revolução industrial 4.0 se torna ainda mais anacrônica.

Comentário nosso – Para se ter uma ideia de como estamos atrasados nesta questão, bastam os números. No Brasil apenas “13,1% dos estudantes de ensino médio (estão) cursando o ensino técnico”.  “É muito pouco diante das evidências de que a educação profissional e tecnológica configura um dos principais investimentos de países ricos em seus sistemas de ensino“. “A média, por exemplo, dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade conhecida como o “clube dos países desenvolvidos”, é de cerca de 40%. Há países, como Alemanha e Finlândia, que exibem números ainda maiores: 49% e 68%, respectivamente“. Infelizmente o Brasil é o país dos acadêmicos para os quais os deplomas de curso superior são tudo, embora milhões deles estejam desempregados ou ou trabalhando em atividades que não têm nada a ver com a sua formação acadêmica, enquanto há milhões de formados em cursos técnicos empregados com salários até superiores ao de formados em faculdade. (LGLM)

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *