Explosão de cursos de medicina tornou a admissão menos seletiva, o que impacta na qualidade dos formandos
(Hélio Schwartsman, colunista da Folha, onde foi editor de Opinião. É autor de “Pensando Bem…”, em 18/04/2025)

Médicos devem ser submetidos a um exame de proficiência semelhante ao da OAB? Até não muitos anos atrás, havia poucas escolas médicas, que selecionavam seus alunos através de vestibulares hiperconcorridos. Só estudantes muito preparados conseguiam entrar, de modo que a qualidade acadêmica dos que se formavam não era motivo de grande preocupação.
A partir da década de 90, porém, houve uma explosão na oferta de cursos médicos, que se intensificou nos últimos 20 anos. Esse movimento era em algum grau necessário, já que o Brasil tinha taxas relativamente baixas desses profissionais. Em 90, havia 0,91 médico para cada mil habitantes. A média da OCDE é de 3,7 por mil. O Brasil está com 2,81 por mil –e aumentando.
Hoje, para entrar num curso de medicina, o principal requisito é um bolso capaz de arcar com mensalidades que excedem os R$ 10 mil cobrados por escolas privadas. Isso significa que o recrutamento dos profissionais se tornou academicamente bem menos seletivo.
No mundo real, não é bem assim. Todos os incentivos econômicos são para que as escolas não atrapalhem a vida do cliente e lhe entreguem o diploma ao fim do sexto ano. A qualidade dos formandos se tornou um problema.
Penso que isso basta para justificar a existência de um exame de proficiência. O cidadão que se consulta com um médico não tem como avaliar sua competência e vai na confiança de que, se ele exerce a profissão, é porque está capacitado. É preciso tornar esse pressuposto teórico uma realidade empírica.
Não creio, porém, que o exame médico tenha de se dar nos mesmos termos do aplicado aos advogados pela OAB. Penso que a prova poderia ser seriada, com aplicação em diferentes fases do curso. Não é sábio concentrar muito do futuro de um jovem num único exame.