O debate que falta ao Bolsa Família (confira comentário nosso)

By | 21/04/2025 7:37 am
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O governo deve anunciar mudanças no Bolsa Família em breve, reduzindo o tempo que beneficiários têm de permanência no programa após obter aumento de renda e ultrapassar a linha da pobreza. Hoje, a chamada “regra de proteção” garante que, em caso de conquista de emprego e elevação da renda para um patamar acima de R$ 218 (desde que mantendo um rendimento abaixo de meio salário mínimo), o beneficiário possa seguir por um período no programa, recebendo o equivalente a 50% da parcela por 24 meses. A expectativa é de que esse prazo caia para um ano.

Trata-se de uma mudança acertada, com possibilidade de redirecionar o debate público sobre o Bolsa Família em duas frentes: primeiro, atender a uma necessidade de desenhar regras de transição mais suaves para o programa, evitando saídas abruptas que prejudicam os mais vulneráveis; segundo, oferecer incentivos para os beneficiários caminharem em direção à autonomia desejada, desvencilhando-se das amarras que os ligam por tempo demais ao programa. Com transição adequada, pode-se, por exemplo, aplacar as queixas segundo as quais o beneficiário do Bolsa Família prefere a informalidade para não perder o benefício.

As mudanças em estudo pelo governo deveriam servir, porém, como uma oportunidade maior: é hora de o País voltar a debater mais seriamente, de forma desapaixonada e não dogmática, os mecanismos de aperfeiçoamento do programa e, em especial, como instituir meios mais efetivos para a chamada porta de saída. Com mais de 20 anos de existência, o Bolsa Família é um robusto programa de transferência de renda, uma marca já enraizada no imaginário brasileiro e um caso raro de política pública perene. Mas são justamente essas condições – incluindo um irresistível apelo eleitoral – que acabam por gerar uma espécie de aprisionamento nacional, como se criticá-lo fosse crime de lesa-pátria. Não é.

Um dos pontos criticáveis é a ausência de balizas firmes para a porta de saída, o fortalecimento da inclusão ao trabalho e a busca de cidadãos autônomos. Segundo dados revelados pelo site Poder360, 7 milhões de famílias, de um total de 20,6 milhões inscritas, estão no programa há pelo menos 10 anos. O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, lembra que o caminho para reduzir essa longa dependência é o fomento do emprego e a criação de regras que permitam a essas pessoas se arriscar no mercado de trabalho sem perder o benefício instantaneamente. Em outras palavras, é preciso garantir que o caminho para a inclusão produtiva se dê de forma segura e gradual. Uma regra que reduz o benefício imediatamente a zero ou a 50% é não só abrupta como gera uma penalização imediata aos mais vulneráveis. Essa é uma visão compartilhada por bons especialistas no assunto.

Resta desejar que o ministro convença o seu chefe. Como líder populista que é, o presidente Lula da Silva costuma se apegar aos ganhos políticos supostamente fáceis trazidos pela transferência de renda. Em 2019, o governo federal gastava R$ 30 bilhões com o programa, marca que hoje ultrapassa R$ 170 bilhões. O número de famílias subiu de 14 milhões para quase 21 milhões. O valor médio subiu de cerca de R$ 190 para quase R$ 700. Essa musculatura toda, sem redução significativa da pobreza, foi adquirida pela atabalhoada e eleitoreira criação do Auxílio Emergencial pelo governo Bolsonaro. Ao assumir o mandato, Lula lançou o Novo Bolsa Família, estabelecendo o valor mínimo de R$ 600 por família – na prática, mantendo o valor do auxílio instituído por Jair Bolsonaro. É uma distorção a ser corrigida. O Banco Mundial, por exemplo, sugere não um piso comum a todas as famílias, mas um benefício calculado com base na quantidade de membros da família e um valor adicional por criança.

O Brasil parou de discutir as chamadas condicionalidades – exigências impostas às famílias, como a frequência escolar – e ainda patina na consolidação de incentivos para a inclusão produtiva, de modo a fazer com que o Bolsa Família deixe de ser um recurso eleitoreiro para, de fato, oferecer condições para que seus beneficiários do presente tenham uma vida independente no futuro. É uma necessidade antiga, um debate do qual os governos lulopetistas sempre tentaram escapar. Agora há uma notável chance em formação no horizonte para voltar a encará-lo.

Comentário nosso – É urgente uma mudança no Bolsa Família. Ele tem que deixar de ser um substituto permanente do emprego, para voltar a sua ideia natural ser um substituto eventual do desemprego, um pouco maior do que o seguro pago para o trabalhador que ficou desempregado. Do jeito que está, o bolsa família está servindo para desestimular o emprego. Hoje é raro se conseguir, por exemplo, um trabalhador na zona rural e, em algumas profissões, na zona urbana, como, por exemplo, um empregada doméstica. (LGLM)

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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