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(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 06/05/2025)
O pesquisador em Educação e doutor em Economia pela Universidade Vanderbilt (EUA), Claudio de Moura e Castro, em artigo publicado neste domingo 04/05/2025, no jornal o Estadão, sob o título “A aprendizagem apunhalada pelas costas”, chama a atenção para um fato que merece um profunda reflexão: “Trocou-se uma política econômica de sucesso milenar por uma política social mal concebida”.
Pelo que se sabe, antes de começar a sua missão na terra, Jesus Cristo era marceneiro, profissão que aprendeu com seu pai putativo, José. Como não havia escolas profissionais, a maioria das profissões eram aprendidas nas oficinas e estabelecimentos onde alguém exercia uma profissão. Meninos e jovens frequentavam estes locais onde iam aprendendo as mais diversos profissões: carpinteiro, pedreiro, pintor, construtor de barcos, de tonéis e barricas, de carroças e por aí afora. E em torno de cada profissional que ia surgindo iam se formando os novos profissionais. Eram aprendizes de médicos, de professores, de comerciários, de escrivãs, de jornalistas, de massagistas e assim por diante. Todo mundo aprendia praticando a profissão, junto com um profissional.
Depois é que surgiram a escolas profissionais, mas mesmo com estas onde se aprendia mais a teoria e as práticas corretas, a aprendizagem ainda tinha a sua função, pois nela você aprendia os macetes, a capacidade de negociação e de improvisação.
Mas em alguns países da Europa, ainda hoje a aprendizagem absorve mais da metade dos jovens entre 16 e 19 anos.
No Brasil, a legislação dificultou o trabalho dos jovens, tentou-se impedir a aprendizagem informal e passou-se a tornar obrigatória uma aprendizagem formalizada. Isto terminou dificultando a aprendizagem. E qual o resultado? Os jovens desocupados têm sido atraídos para as drogas e para a criminalidade.
Na prática, com o atual sistema e com escolas profissionalizantes que não têm capacidade de acolher toda a população jovem, a aprendizagem tem sido muito inferior ao contingente de jovens em idade de aprendizagem. E a situação é pior naquelas cidades onde não existem escolas profissionalizantes ou estas não podem acolher todos os jovens em idade de aprender.
A nosso ver, a legislação com relação à aprendizagem deveria ser mudada. A aprendizagem, mesmo informal, deveria ser incentivada com carga horária que permitisse ao aprendiz continuar estudando, com isenção de previdência e remuneração reduzida e outras facilidades que incentivassem as empresas a acolher os aprendizes como se fazia antigamente.
Nas cidades onde existem cursos profissionais, como Patos e Santa Luzia, por exemplo, não aprende uma profissão quem não quer. Mas há profissões que ainda não tem cursos profissionais, em muitas cidades. Como aprender mecânica de autos, por exemplo, em Piancó. A lei deveria permitir o aprendizado, como acontecia antigamente, nas próprias oficinas mecânicas, onde aprenderam muitos dos nossos mecânicos de hoje. Assim outras profissões, como gesseiro, eletricista, pedreiro e assim por diante. Eu trabalhei dos sete aos nove anos, antes de ir para o Seminário, onde fiquei até os quinze anos. Dos quinze aos dezoito trabalhei no comércio, mas nunca deixei de estudar. Faltando um mês para completar os dezoito anos, comecei a ensinar, o que fiz por mais de dez anos. Não continuei em nenhuma destas profissões, pois virei bancário, jornalista e fiscal do trabalho, mas tudo que aprendi, durante os tempos de aprendiz, me serviu pela vida afora.