A quem não interessa a CPI do INSS (confira comentário nosso)

By | 13/05/2025 7:23 am

Necessária ao País, investigação parlamentar sobre a roubalheira das aposentadorias pode acabar no limbo por uma razão prosaica: afeta tanto o governo de Lula quanto o de Bolsonaro

 

Imagem ex-librisSe for acionado o tradicional sistema de blindagem vigente em Brasília, que costuma unir políticos e partidos de diferentes lados em torno de interesses em comum e enterrar ideias que podem prejudicá-los, a mais que necessária CPI para investigar as bilionárias fraudes no INSS corre o risco de morrer antes mesmo de nascer. O motivo é prosaico: embora possa ser especialmente ruim para o governo do presidente Lula da Silva, uma CPI como essa pode eventualmente apontar malfeitos do governo anterior, de Jair Bolsonaro. Eis a senha para que a turma da contemporização passe a atuar, estancando a eventual instalação da comissão. Se isso acontecer, ficará claro o que todos já intuem: que nem governo nem oposição estão preocupados com os aposentados lesados. O único cálculo, de parte a parte, é de perdas e ganhos eleitorais.

Logo após ser deflagrada a operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) para investigar as fraudes em descontos nas aposentadorias e pensões, a oposição não teve dificuldades para conseguir as 171 assinaturas necessárias e protocolar um requerimento com vistas a criar a CPI, enquanto o governo, atordoado e perdido, patinava entre a incompetência para gerir a crise e a habitual procrastinação do presidente Lula da Silva – que, torcendo para que o caso esfriasse por conta própria, demorou tanto a demitir Carlos Lupi do Ministério da Previdência quanto a definir quando e como ressarcirá às vítimas os recursos descontados irregularmente ao longo dos últimos anos.

No entanto, em pouco tempo ficou claro que os malfeitos, a letargia e a omissão no caso da roubalheira do INSS transcende governos. Tudo começou em 2016, no governo de Michel Temer, mas foi em 2022, durante a administração de Jair Bolsonaro, que disparou o número de reclamações de beneficiários sobre os descontos aplicados, embora pese contra o governo Lula a demora em agir, a despeito dos alertas feitos ainda em 2023. Segundo as investigações, as entidades associativas receberam quase R$ 8 bilhões entre 2016 e 2024, dos quais R$ 2,8 bilhões apenas no ano passado. A maioria dos beneficiários não havia autorizado a cobrança ou acreditava que seu pagamento fosse obrigatório.

Os problemas compartilhados entre o atual governo e o anterior justificaram, por exemplo, o esforço do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG) ao publicar em suas redes sociais um vídeo em que discorre sobre o escândalo. Nele, o parlamentar não só acusa o atual governo, como seria de esperar, como tenta defender Bolsonaro e desvencilhar o aliado do caso. Diante da viralização do vídeo, que repetiu a estética e o sucesso nas redes sociais de outro publicado em janeiro, quando o deputado criticou uma suposta taxação do Pix e ajudou a gerar uma crise de imagem do governo lulopetista, os exegetas do Palácio do Planalto se apressaram em respondê-lo, transferindo para Bolsonaro a responsabilidade pelo escândalo.

Entre o sujo e o mal-lavado, os diques de contenção da CPI começaram a ser construídos. Não à toa, a oposição insiste na instalação da comissão com o foco contra o governo Lula, enquanto há governistas ameaçando mirar na gestão de Bolsonaro. Quem conhece os ingredientes que moldam o apetite ou o fastio por investigações em Brasília sabe que há uma forma implacável de neutralizar uma CPI: mostrar que, quando dois lados têm a perder, o mais seguro é não brigar. Sobretudo quando se sabe também que o Congresso teve responsabilidade pela demora na aprovação de uma proposta para garantir a exigência de controle nos descontos.

Este jornal reafirma que o tamanho da rapina e a dificuldade do governo em oferecer respostas com prazo e intensidade adequados justificam a instalação da CPI. A apuração deve ser rigorosa e ir além deste governo, posto que 6 milhões de beneficiários foram prejudicados ao longo dos anos. Há muitas perguntas ainda sem resposta sobre o esquema e uma CPI pode ajudar a iluminá-las. Razões suficientes também para exigir neste momento uma pressão dos brasileiros para evitar que a operação abafa seja bem-sucedida.

Oposição protocola pedido de criação de CPMI do INSS para driblar fila de comissões na Câmara

Iniciativa tem a assinatura de 223 deputados e 36 senadores e o apoio até de deputados do PSB, partido do vice-presidente da República Geraldo Alckmin

(Levy Teles, no Estadão, em 12/05/2025) A oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional protocolou, nesta segunda-feira, 12, um requerimento pedindo a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A proposta teve a adesão de 223 deputados e 36 senadores – a maioria deles do Centrão e do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas conta até com a assinatura de seis deputados do PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin.

O número mínimo de assinaturas (171 na Câmara dos Deputados e 27 no Senado Federal) já tinha sido alcançado na semana anterior, mas a responsável pela coleta na Câmara, Coronel Fernanda (PL-MT), queria reunir mais assinaturas para dar mais corpo. Damares Alves (Republicanos-DF) foi a responsável pela coleta na outra Casa.

Comentário nosso – Por trás destas iniciativas, de CPI e agora CPMI, estão visivelmente, como ficou patente nas duas notícias, os bolsonaristas. Aparentemente visam desgastar o governo Lula, embora tudo tenha começado no desgoverno Bolsonaro, mas o que na verdade querem, antes de tudo, é desviar a atenção do povo para os processos penais contra Bolsonaro e sua quadrilha, pela sua intentona contra a democracia. Ou seja simplesmente tentam ressuscitar, poliiticamente, o incompetente capitão Bolsonaro (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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