O calvário das vítimas dos larápios do INSS

By | 17/05/2025 5:28 am

Aposentados e pensionistas carregam fardo de ter de comprovar pilhagem de seus benefícios em fraude que escancara descontrole de sucessivos governos e só reforça a necessidade de uma CPMI

 

Imagem ex-librisDecorrido quase um mês da Operação Sem Desconto, que desviou, por baixo, R$ 6 bilhões de aposentadorias e pensões previdenciárias, a única certeza a emergir do escândalo até agora é que o sistema do INSS é falho, impreciso e desprovido de mecanismos que evitem sua burla. Já passa de 1 milhão o número de beneficiários que contestaram o desconto de contribuições associativas e sindicais em folha de pagamento desde quando o INSS abriu o canal de comunicação no aplicativo da autarquia.

Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), que deu azo à deflagração da operação, em parceria com a Polícia Federal (PF), sugere que a ladroagem deve ter feito milhões de vítimas – afinal o INSS emitiu 9,4 milhões de notificações. E são elas, as vítimas, que agora têm de enfrentar um calvário em busca de ressarcimento por um prejuízo que muitas nem sequer haviam identificado. De fato, o relatório divulgado pela CGU no dia em que a ação policial foi deflagrada, no final de abril, apontava que a maioria dos beneficiários desconhecia os descontos ou achava que eles eram obrigatórios.

A CGU puxou o fio de fraudes que ocorriam a conta-gotas, com débitos de pequenos valores em um volume extraordinário de benefícios, numa ramificação tão abrangente que torna indecoroso o descontrole do governo sobre a manipulação dos benefícios do INSS – e não apenas deste governo, a bem da verdade. Como apontam as investigações, os descontos foram iniciados em 2016, durante o governo Michel Temer, e ganharam escala em 2022, na gestão Jair Bolsonaro, quando houve dispensa da necessidade de revalidação anual.

No primeiro dia de recebimento de contestações, 41 entidades associativas foram citadas por aposentados e pensionistas como responsáveis por descontos indevidos, bem mais que o total de 12 que vinham sendo investigadas pela PF e que tiveram pouco mais de R$ 2 bilhões bloqueados para ressarcir as vítimas. É pouco e, como já admitiu a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, recursos do erário poderão vir a ser utilizados para reembolsar aposentados e pensionistas roubados sob as barbas do poder público.

Ao menos até agora, o governo Lula da Silva não deu mostras de que conseguirá arquitetar uma solução que atenda a todos os lesados no menor tempo possível, como seria razoável para uma situação indefensável como esta. Para boa parte das vítimas, fazer uma reclamação por meio de um aplicativo digital é algo pouco amigável e até mesmo inacessível.

Ademais, a julgar pelo comportamento do governo desde quando estourou o escândalo, preocupa a morosidade e os caminhos tortuosos que podem ser adotados para corrigir o descalabro. Entre a deflagração da operação e a demissão de Carlos Lupi do Ministério da Previdência, passaram-se nove longos dias, apesar das evidências de que, no mínimo, houve negligência por parte do agora ex-ministro.

Ao nomear como substituto Wolney Queiroz, braço direito de Lupi, Lula trocou seis por meia dúzia. O novo ministro, por óbvio, culpa o governo Bolsonaro pela proliferação de associações fraudulentas. Providencialmente, Queiroz parece ter esquecido que ele próprio, como deputado, em 2021, foi coautor da emenda que adiou a exigência de revalidação anual dos descontos em folha.

Tudo isso só fortalece a necessidade de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar um esquema que parece ter contado ora com a omissão, ora com a colaboração de muitas autoridades no Executivo e no Congresso nos últimos anos.

O governo tenta evitar que a CPMI seja instalada, mas, se isso não for possível, buscará colocar aliados em cargos importantes do colegiado, como a presidência e a relatoria, para delimitar as investigações, responsabilizar a gestão Bolsonaro pela origem do problema e, de quebra, vender a falácia de que foi Lula quem acabou com o esquema.

Tão importante quanto descobrir como isso começou é apurar como tudo continuou por tanto tempo. Mas o fundamental é estabelecer controles rígidos no INSS para impedir que escândalos como este jamais voltem a se repetir. Do contrário, será mais uma CPMI que acabará em pizza.

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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