Mesmo com perfis distintos, os nomes mais prováveis do bolsonarismo seguirão roteiro eleitoral parecido; campanha exigirá defesa ativa do ex-presidente e tende a nivelar postulantes

O ex-presidente Jair Bolsonaro com governadores da direita antes de ato na Paulista por anistia aos golpistas de 8 de Janeiro Foto: Divulgação/Reprodução Estadão
Essas diferenças alimentam algumas crenças — especialmente entre políticos — sobre a competitividade de cada pré-candidato. Michelle é vista como opção relativamente forte por ser mulher, o que poderia atenuar a resistência do eleitorado feminino ao bolsonarismo. Tarcísio carrega a credencial de gestor e um discurso de moderação, mas também pode ser alvo de ataques sobre temas econômicos, como o risco de congelamento do salário mínimo. Já Eduardo é, até aqui, o nome menos competitivo.
As diferenças de potencial eleitoral existem, mas são menores do que o senso comum costuma sugerir. O que tende a nivelá-los é o fato de que o candidato precisará demonstrar alinhamento irrestrito a Bolsonaro — não apenas agora, mas principalmente entre março de 2026 e o primeiro turno. Caso Bolsonaro esteja preso, como é provável, seu representante terá de combinar uma campanha de oposição ao PT com a defesa ativa do ex-presidente: pedindo anistia, atacando o Supremo, sustentando a narrativa do “preso político”. Qualquer hesitação nesse discurso pode ser fatal. A base bolsonarista reage com rapidez a sinais de distanciamento — e pode rotular como traidor quem recuar, abrindo espaço para um nome alternativo, como quase ocorreu na eleição municipal de São Paulo em 2024.
Essa associação tem seu custo. A tendência é que a rejeição do candidato bolsonarista aumente, espelhando os índices do próprio Bolsonaro. Isso vale para Tarcísio, Michelle ou Eduardo. No segundo turno, o escolhido até poderá tentar deixar o ex-presidente em segundo plano e centrar a disputa em Lula. Mas, a essa altura, o vínculo político já estará consolidado — e suas consequências, também.
Tarcísio, Michelle ou Eduardo podem começar a corrida com perfis diferentes, mas todos terão de seguir o mesmo roteiro. Ao final do ciclo eleitoral, devem chegar com chances de vitória — e taxas de rejeição — surpreendentemente parecidas.