Candidato da direita em 2026 herdará rejeição de Bolsonaro

By | 26/05/2025 2:31 pm

Mesmo com perfis distintos, os nomes mais prováveis do bolsonarismo seguirão roteiro eleitoral parecido; campanha exigirá defesa ativa do ex-presidente e tende a nivelar postulantes

 

(Silvio Cascione, mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group, no Estadão, em 21/05/2025)
Foto do author Silvio CascioneO campo conservador deve passar os próximos dez meses discutindo quem será o herdeiro político mais viável de Jair Bolsonaro. Mas a escolha não dependerá apenas das pesquisas: o verdadeiro teste será de lealdade — e isso tende a elevar a taxa de rejeição de quem vier a ser escolhido.
As pesquisas recentes permitem uma comparação preliminar entre os nomes mais citados: TarcísioEduardo e Michelle. Tarcísio tem hoje a melhor performance entre os três. Nas simulações de segundo turno feitas pelo Datafolha, registra 39% das intenções de voto, contra 38% de Michelle e 34% de Eduardo. Na pesquisa da AtlasIntel, sua vantagem é apenas simbólica no segundo turno (0,6 ponto percentual), mas sua taxa de aprovação supera a de Michelle em sete pontos. Eduardo, por ora, não aparece nos cenários testados pela AtlasIntel.

O ex-presidente Jair Bolsonaro com governadores da direita antes de ato na Paulista por anistia aos golpistas de 8 de Janeiro

O ex-presidente Jair Bolsonaro com governadores da direita antes de ato na Paulista por anistia aos golpistas de 8 de Janeiro Foto: Divulgação/Reprodução Estadão

Essas diferenças alimentam algumas crenças — especialmente entre políticos — sobre a competitividade de cada pré-candidato. Michelle é vista como opção relativamente forte por ser mulher, o que poderia atenuar a resistência do eleitorado feminino ao bolsonarismo. Tarcísio carrega a credencial de gestor e um discurso de moderação, mas também pode ser alvo de ataques sobre temas econômicos, como o risco de congelamento do salário mínimo. Já Eduardo é, até aqui, o nome menos competitivo.

As diferenças de potencial eleitoral existem, mas são menores do que o senso comum costuma sugerir. O que tende a nivelá-los é o fato de que o candidato precisará demonstrar alinhamento irrestrito a Bolsonaro — não apenas agora, mas principalmente entre março de 2026 e o primeiro turno. Caso Bolsonaro esteja preso, como é provável, seu representante terá de combinar uma campanha de oposição ao PT com a defesa ativa do ex-presidente: pedindo anistia, atacando o Supremo, sustentando a narrativa do “preso político”. Qualquer hesitação nesse discurso pode ser fatal. A base bolsonarista reage com rapidez a sinais de distanciamento — e pode rotular como traidor quem recuar, abrindo espaço para um nome alternativo, como quase ocorreu na eleição municipal de São Paulo em 2024.

Essa associação tem seu custo. A tendência é que a rejeição do candidato bolsonarista aumente, espelhando os índices do próprio Bolsonaro. Isso vale para Tarcísio, Michelle ou Eduardo. No segundo turno, o escolhido até poderá tentar deixar o ex-presidente em segundo plano e centrar a disputa em Lula. Mas, a essa altura, o vínculo político já estará consolidado — e suas consequências, também.

Tarcísio, Michelle ou Eduardo podem começar a corrida com perfis diferentes, mas todos terão de seguir o mesmo roteiro. Ao final do ciclo eleitoral, devem chegar com chances de vitória — e taxas de rejeição — surpreendentemente parecidas.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde 09 de março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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