Imaginem o que passa hoje pela cabeça da ex-deputada Francisca Motta.
“Eu estava tranquila na Assembleia Legislativa gozando as delícias de um quinto mandato como deputada estadual, quando me convocaram para manter a bandeira do meu partido fincado na Prefeitura de Patos, num mandato que já atingia o oitavo ano.
“Seria um “passeio”, pois o partido era forte em Patos e eu tinha uma vida parlamentar inatacável a serviço do povo que me acolhera com tanta simpatia, quase sessenta anos atrás.
“Às vésperas das eleições, fui constatar que alguma coisa estava errada. Onde estava o reconhecimento do meu povo por mais de vinte anos de serviços prestados a ele, com tanta dedicação, com tanto amor? Tive que investir maciçamente para alcançar o cargo de prefeita da cidade que sempre chamei de minha.
“Alguém tinha estragado a minha festa deixando um verdadeiro “abacaxi” para mim. Além de encontrar as finanças desorganizadas, fui forçada a manter uma equipe, com muitos participantes em que eu não confiava. Passei quase todo meu mandato tentando controlar a ganância justamente daqueles contra os quais eu já cheguei prevenida e alguns outros que terminaram contaminados por eles. Algumas escolhas pessoais minhas ainda me deram alguma satisfação, mas muitos dos outros trabalhavam contra mim.
“No último ano da minha administração, quando pretendia me submeter novamente ao julgamento do meu povo, quando tentaria me justificar pelas promessas que não pude cumprir e, ao mesmo tempo, pedir uma nova oportunidade para não decepcioná-lo na confiança que em mim depositava, senti que muitos daqueles que me cercavam, que participavam da minha administração, trabalhavam para que outra pessoa fosse indicada para concorrer às eleições, em meu lugar, alegando que o povo não me queria de volta, que pesquisas, feitas não sei onde nem sei por quem, diziam que o meu povo não mais me queria.
“Por amor ao partido tive que me submeter a essas pressões e desisti da reeleição.
“Passados quatro anos daquele sonho inicial, nunca esperei que acontecesse comigo o que está acontecendo.
“Hoje amargo a maior das decepções. Fui afastada do meu mandato pela Justiça, justamente por conta dos desmandos que desde o início pretendi evitar e que só em parte consegui que não se concretizassem. O mandato, que pretendia fosse o coroamento de minha carreira política, foi manchado pela realização de várias operações de órgãos oficiais buscando provas de desmandos cometidos em minha administração. Desmandos de cuja autoria minha consciência me absolve, mas dos quais a cada visita daquelas autoridades mais evidências são apresentadas. Minha administração “sub judice”, eu afastada do mandato sem saber se vou voltar para entregar as chaves ao prefeito que me sucederá, não era o coroamento com que sonhei para a minha vida pública.
“Às vésperas das eleições em que eu deveria ser julgada pelo meu povo, em cujos braços seria levada para mais quatro anos de governo da terra que considero minha, meu sonho se transformou em pesadelo. Não por vontade minha, mas em consequência da ação de pessoas a quem dei todas as oportunidades, muitas das quais nada seriam se não fosse as oportunidades que lhes dei. ”
PS. Uma tentativa feita pela defesa da prefeita Francisca Motta no sentido de conseguir o seu retorno ao comando da Prefeitura, foi frustrado neste sexta-feira, quando o Ministro Rogério Schietti Cruz, não tomou conhecimento de um Agravo Regimental, impedindo que o recurso fosse examinado no mérito. Com isso ela continua afastada do cargo, sem previsão de quando conseguirá retornar.