(Publicado no Patos Online)
Nesta segunda-feira, 13 de outubro, faz cinquenta anos que entramos nos estúdios da Rádio Espinharas de Patos para começar a nossa carreira de radialista. Até então éramos apenas professor de Português, no Ginásio Diocesano de Patos, ensinando no então Exame de Admissão, um preparatório para o exame que garantiria a matrícula no Colégio Estadual de Patos. O tesoureiro do Diocesano era o professor Durval Fernandes de Oliveira, que por coincidência era também tesoureiro da Rádio Espinharas. Durval cismou que eu poderia ser locutor de rádio. Não tinha um vozeirão, como era comum naquela época, mas lia bem e sabia me expressar corretamente. A rádio ia fazer um teste para contratar locutores e ele mandou que me inscrevesse. Entre outros candidatos fomos aprovados e contratados, Antônio de Sousa (o saudoso Toinho da Barraca), Genofo Machado e eu. Os outros dois demoraram pouco, eu me viciei e continuei até 1967, quando, aprovado em concurso do Banco do Brasil, fui trabalhar em Piancó e não podia mais continuar no rádio.
Durante dois anos e meio fizemos de tudo na Espinharas. Como locutor de estúdio apresentamos programas matinais de Forró, como Bom Dia Nordeste, programa de violeiros com os saudosos Antônio Américo e Manoel Francisco, o Violas e Repentes pelo qual passavam todos os grandes violeiros daquela época, sempre que vinham a Patos, apresentei o grande sanfoneiro Agamenon Borges, no programa Agamenon Show, fiz até um programa infantil, onde mudando a voz fiz o Vovô Zuzu, que mandava mensagens para as crianças e contava histórias.
Na Espinharas convivi e aprendi com grandes profissionais do rádio como Luiz Pereira, Severino Quirino, Ramalho Silva, Batista Leitão, José Augusto Longo, José Gouveia, Batista Gouveia, Socorro Ferreira e uma geração mais nova composta de Nestor Gondim, Ribeiro Guimarães, José Eduardo, Fildany Gouveia, Petrônio Gouveia, Maria Lucena, Fátima Lima, Sousa Filho, Sousa Irmão, Geraldo Wiliams, entre outros. Entre os operadores de som pontificavam por aqui, Orlando Xavier que virou depois o Baixinho da Bronca Livre e foi o vereador mais votado da história de Patos; meu primo Amilton Leite (apelidado de Gato Salabião por Batista Leitão no seu Forró), o grande Pedro Correia, dublê de juiz de futebol e depois comentarista esportivo. Aguinaldo Lima, Edilberto Brandão, Walter Carneiro, já falecidos, e Marconi Portela foram também operadores na época. No Departamento Esportivo, fiz pista para as narrações de José Augusto, juntamente com Edleuson Franco, que se transformou num dos maiores narradores esportivos do Nordeste, apesar de gago. Na parte artística, Amaury de Carvalho comandava a discoteca e Virgílio Trindade era o homem dos sete instrumentos. Fazia direção artística, comandava programas musicais, compunha e cantava, numa época em que tínhamos no nosso “cast” nomes do quilate do grande violonista Antônio Emiliano. Chico Fiapp era o nosso técnico, responsável pelas transmissões da rádio e fizemos juntos inúmeras transmissões esportivas e toda a vitoriosa campanha de João Agripino no Sertão, em 1965. Convivi com Zacarias Souto, Corina Gomes, Odizia Wanderley e meu primo Roberto Fernandes, o famoso Cabo Jabiraca. Faziam a recepção na portaria da Espinharas e o “Cabo”, dublê de massagista do Esporte, cuidava da limpeza e conservação da emissora.
Além de locutor de estúdio, virei homem dos sete instrumentos, como era comum na época: apresentador de programa de auditório, narrador de procissões e até de enterros. Fizemos transmissões de carnaval e de eleições com toda a equipe. Fui diretor de publicidades, diretor comercial, tesoureiro e gerente, em eventuais substituições ao Professor Durval. Os donos (dirigentes) eram Dom Expedito, Mons. Vieira e Padre Milton, mas o gerente era Durval, sobrinho de Mons. Vieira. Eu e Edleuson fomos crias profissionais dele e Edleuson permaneceu na emissora até morrer, exercendo a Diretoria Comercial e, até o final comandando, o Departamento Esportivo e de Notícias.
Na Espinharas participamos até de uma campanha política, em 1966, quando Mons. Vieira se lançou candidato a deputado federal e terminou sendo eleito. Junto com José Augusto, Nestor Gondim, Edleuson Franco, Amaury de Carvalho e outros companheiros fizemos a campanha de Mons. Vieira em toda a região. Os oradores dos comícios éramos nós, a quem os ouvintes costumavam ouvir pelo rádio e queriam conhecer pessoalmente. E juntávamos gente nos comícios.
A ida para o Banco do Brasil motivou a nossa saída da emissora como funcionário, em 30 de abril de 1967, mas permanecemos como colaboradores até alguns anos atrás, depois de termos virado parceiros, através da nossa REVISTA DA SEMANA. Como colaboradores, ao longo do tempo, transmitimos as ordenações do saudoso Padre Zé Lopes e do querido Padre Severino, ambos ordenados em Piancó, ao tempo em que trabalhávamos naquela cidade. “Fizemos pista” para Edleuson Franco, em transmissões esportivas, e até ousamos comentar futebol na época em que Virgílio e Nestor viraram técnicos de futebol. Com Edleuson fizemos inúmeras transmissões de apurações eleitorais. E até alguns anos atrás éramos presença constante na cobertura das eleições junto com Virgílio Trindade.
Em 1982, a Espinharas passou por uma crise, quando Dom Expedito recebeu de Padre Constant, então diretor-gerente da emissora, a sugestão de vender a emissora, que seria inviável economicamente. Alertado por Edileuson, fomos juntos tentar convencer Padre Valdomiro a assumir a direção da emissora para evitar a sua venda. A Diocese de Cajazeiras até hoje se arrepende de haver vendido a Rádio Alto Piranhas. Padre Valdomiro topou a parada e livrou a Espinharas de ser alienada. Trabalhando na época na agência do Banco do Brasil em Patos, junto com Edleuson, ajudamos Padre Valdomiro no saneamento da Espinharas e na sua sobrevivência. Com a morte de Dom Expedito, Padre Laires assumiu a Diocese e a direção da emissora e a rádio continua firme até hoje, apesar das eventuais dificuldades, tendo respirado mais aliviada depois que Padre Jair assumiu a administração e instalou a FM.
Durante estes cinquenta anos dois administradores se sobressaíram sobre os demais, os saudosos Padre Luciano Correia Lima de Menezes e Padre Joaquim de Assis Ferreira. Foi na administração de Padre Assis que o prédio foi reformado ganhando o primeiro andar. Aliás, a atual direção que reformou o auditório da emissora prestou uma homenagem muito justa ao Padre Assis, dando o nome dele, ao auditório. Só Deus sabe quanto dinheiro Padre Assis “enterrou” na Espinharas, do próprio bolso. Não recebia remuneração e nunca deixou faltar dinheiro para o “vale” semanal. Isto sem falar do meu compadre e amigo Padre Valdomiro, graças a quem, em grande parte se deve o fato de a Rádio continuar até hoje na propriedade da diocese, embora pouca gente saiba disso, devido a lendária simplicidade do nosso decano. Talvez a maioria do atual clero nem saiba desse fato, já que parece que não resta ninguém da época, além de Padre Si e Valdomiro.
Na década de oitenta começamos a segunda fase da REVISTA DA SEMANA, que já completou trinta e quatro anos ininterruptos. Começamos também o LUIZ GONZAGA INFORMA que entregamos a Edleuson quando fomos trabalhar e morar em Recife em 1984. Edleuson o transformou em Factorama que assumimos quando de sua morte, apresentando-o durante alguns anos até repassá-lo para Airton Alves quando nos sentimos impossibilitado de apresentá-lo diariamente por conta de nossas constantes viagens a serviço.
O fato de termos passado a residir na capital, nos últimos nos tem impedido de continuarmos colaborando com a Espinharas como fazíamos antes. A própria REVISTA DA SEMANA é gravada em João Pessoa e colocada no ar, graças a dedicação de Toinho Silva, utilizando os recursos da internet.
Ao longo destes cinquenta anos convivemos com os três primeiros bispos da Diocese (os saudosos Dom Expedito e Dom Gerardo, além de Dom Manoel), já que foram pouquíssimos os contatos com Dom Eraldo, afinal embora vá frequentemente a Patos, não tem sobrado tempo para a costumeira visita à emissora. Quase uma vintena de padres e alguns poucos leigos administraram a emissora durante este período. Além dos que já citamos, a atual direção, hoje encabeçada por Dom Eraldo e com a firme participação de Padre Jair têm se sobressaído pela implantação da FM e pelo saneamento das finanças da Fundação Cultural Nossa Senhora da Guia, mantenedora das duas emissoras.
Só tenho a agradecer aos nossos ouvintes, aos nossos colaboradores, aos nossos patrocinadores, aos nossos colegas de rádio e, principalmente aos que têm dirigido a antiga Rádio Espinharas de Patos, depois transformada em Fundação Cultural Nossa Senhora da Guia, por esta convivência de cinquenta anos. Hoje me orgulho de ser o mais antigo radialista patoense em atividade ininterrupta. E espero em Deus conviver mais algum tempo, que só ele sabe quanto, com todos vocês que nos honraram com a audiência e com a colaboração para que tenhamos continuado no ar.
Um agradecimento especial à titular de Argon, Jornalismo e Publicidades, empresa responsável pelo programa, Dona Arlene Nóbrega Lucena Lima de Morais, por me ajudar a continuar no ar, muitas vezes até participando, junto com Bruno, da apresentação da REVISTA, além de suportar que dedique as horas de finais de semana a elaborar e gravar o programa, roubando dela e dos filhos momentos da convivência familiar,
Muito obrigado a todos. E a nossa homenagem a todos aqueles com quem convivemos na tarefa de manter o bom nome da nossa emissora, principalmente aqueles que cumpriram a sua missão na terra e já não estão entre nós, dos diretores Padre Assis e Padre Luciano aos saudosos Zacarias, Corina, Odizia e Jabiraca. E por fim, pedimos perdão a todos aqueles cujos nomes tenhamos aqui omitido, não por desimportantes, mas por numerosos que foram. (LGLM)