Fundo do poço

By | 11/10/2014 11:54 pm

(Folha do sábado)

Depois de Delúbio Soares, Silvio Pereira e outros tantos nomes do mensalão, já nem parece o caso de qualificar como estarrecedoras as revelações do doleiro Alberto Youssef e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, sobre os desvios de recursos na empresa.

Em depoimentos à Justiça Federal, estimulados pelo instituto da delação premiada, os dois personagens descreveram com naturalidade o esquema de propinas nos contratos firmados com a estatal.

Na Diretoria de Abastecimento, controlada por Costa, PT e PP dividiam a messe da corrupção. Ao primeiro partido estavam reservados 2% do valor dos contratos arranjados, enquanto 1% ia para a segunda sigla e intermediários.

Reencontram-se, na participação do PP, nomes conhecidos do público. Obtiveram notoriedade durante o mensalão o deputado José Janene, morto em 2010, e seu assessor João Cláudio Genu. No PT, o nome de Delúbio Soares é substituído pelo do novo tesoureiro da agremiação, João Vaccari Neto.

Segundo os relatos, mais garfadas alimentavam o caixa petista. Em outras diretorias, que não foram objeto da partilha de cargos com a base aliada, o PT garantia a integralidade da propina.

Quanto ao PMDB, contentava-se com o 1% da Diretoria Internacional, para a qual indicara Nestor Cerveró, um dos principais arquitetos da operação Pasadena.

Nenhuma empresa deixava de pagar a propina, conta Paulo Roberto Costa. Referia-se a um conjunto de empreiteiras do qual faziam parte –segundo confirma Alberto Youssef– Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e outras de menor notoriedade.

Diferentemente do episódio que envolve o metrô de São Paulo e o PSDB, não surge neste inquérito uma delação por parte das próprias empresas corruptoras –declarações de um ex-diretor da Siemens foram decisivas para desencadear o escândalo tucano. Ao contrário, todas as citadas negam participação no esquema.

Apesar dessas objeções, e mesmo que nada, por enquanto, esteja comprovado e ainda menos julgado, o caso Petrobras muito provavelmente terá efeitos sobre o cenário eleitoral. Com que intensidade, porém, não se sabe.

As revelações reforçam as críticas do PSDB ao aparelhamento do Estado pelos governos do PT, mas não é especialmente confortável para os tucanos o papel de defensores inflexíveis da ética pública.

Talvez o melhor que possam fazer os candidatos, nesta altura, seja propor reformas mais amplas do ponto de vista do controle sobre os negócios do Estado e do próprio sistema político, de modo a minimizar o que há de estrutural nos mecanismos de corrupção.

Não é fácil; em meio à facilidade das acusações, um interessado silêncio predomina nesse aspecto.

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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