Os 50 anos de Gonzaga (*)

By | 19/10/2014 1:07 am

(“A notícia passada a limpo”)

(José Augusto Longo, no Patos Online)

Atarefada com suas obrigações, antes com sala de aula e direção de Colégio e, depois de aposentada, com a presidência da Fundação Ernane Sátyro, onde passou por quase quinze anos, a professora Emília Longo não tinha tempo sobrando para ouvir rádio durante a semana. O mais incrível é que ela, mesmo assim, vivia sempre antenada e pronta a discutir qualquer assunto que dissesse respeito à cidade que tanto amava. Certa vez perguntando a ela qual a fonte que a abastecia de notícias, foi rápida ao responder: “ouço todos os domingos à Revista da Semana, da Rádio Espinharas,  porque lá, a notícia é passada a limpo, sem preconceitos e sem ligações espúrias”.

Certa vez Emília, se referindo a Luiz Gonzaga, disse-me que há muito tempo observava com atenção sua atuação como professor da língua portuguesa, se não me engano,  no velho Diocesano e aprendeu a admira-lo mais ainda depois de uma curso que fizeram juntos em João Pessoa, não sei ao certo, mas, parece, foi uma especialização. Para Emília, os trabalhos apresentados por Gonzaga durante o curso eram impecáveis, o que demonstrava sua capacidade intelectual, e que, segundo sua gratuita avaliação, demonstrava claramente o seu alto nível de inteligência e cultura.

Inicio citando Emília Longo, pois, modéstia a parte, sempre a considerei honesta em suas manifestações e, também para aquilatar o nível de penetração e a categoria dos cativos ouvintes da velha Revista.

Mais antigo programa do rádio paraibano, efetivamente no ar, a Revista da Semana, dado ao seu estilo de composição, vem, ao longo desse monte de anos prendendo a atenção de milhares de admiradores que aguardam, com ansiedade, às treze horas das nossas quentes domingueiras, para, através de notícias compiladas durante a semana e, por intermédio de comentários lúcidos e compatíveis com o fato, deixá-los a par de tudo o que acontece na cidade, no Estado e no nosso País.

Mesmo cheio de compromissos profissionais que o impedem, desde muitos anos, de dar tempo integral à imprensa, talvez a maior de suas paixões, Gonzaga dá  o testemunho maior de que quem quer fazer faz, independentemente de ter ou não ter tempo disponível. Não é moleza, sinceramente, o cara passar de segundo a sexta dando expediente fora do domicílio, praticamente morando em hotéis, viajar centenas de quilômetros e ainda ter disposição de, sem a mínima necessidade no campo financeiro, tirar meio dia da convivência com a esposa, os filhos e netos a quem quer bem, para montar um programa em estúdio improvisado, na dependência, ainda por cima, de outros fatores, como telefonia e internet.

Chega a ser comovente depoimentos de velhos ouvintes que, cadeira cativa assistem, semanalmente, a Revista. São homens e mulheres que, há cinquenta anos aguardam ansiosamente os domingos e que, gradativamente, vêm transmitindo a filhos e netos o mesmo salutar costume. Ainda hoje, e isso marca positivamente o programa, quando alguém comenta qualquer notícia, ouve, de pronto, do interlocutor a pergunta: “se esta foi divulgada pela Espinharas, no programa de Luiz Gonzaga”. Da imensa audiência do programa dou meu depoimento, já que minhas modestas crônicas do Patosonline, não sei por que cargas d’água – o que muito me honra – são sempre utilizadas naquele prestigioso espaço como “opinião” e, por isso, sinto-me o “rei da cocada preta”, diante de tantas e tantas boas referências que recebo diariamente.

A Rádio Espinharas, onde ingressei, juntamente com o baixinho Orlando, ainda na posse de Drault Ernane, portanto, no limiar dos anos sessenta, sempre foi um celeiro de bons profissionais. Nós, os remanescentes, muito devemos a Severino Quirino, um grande mestre que passou pra nós ensinamentos que ainda hoje, mesmo com o advento das universidades que se dizem de comunicação, prevalecem, pela importância de seu caráter educativo e, sobretudo, onde imperavam e ainda imperam pra nós, o gosto pela profissão, a ética profissional e o respeito amplo aos ouvintes. Aprendemos e Gonzaga assimilou da melhor maneira possível, que a informação pra ser correta, tem que vir a público com a maior das isenções. Assimilou também que a seriedade da notícia, pressupõe independência de quem a divulga.  Assimilou, como também assimilei, que para se dar dignidade ao fato, é necessário que também sejamos dignos. E Gonzaga encerra tudo isso.

Além de Quirino, o primeiro mestre, conviveu Gonzaga com profissionais do gabarito inconteste de Virgílio, Nestor e Edleuson, dentre mais alguns que disseram a Patos como se faz rádio com lisura e competência, sem floreios e sem enganação, além de diretores que sempre lhes deram liberdade de ação, por confiarem na sua seriedade e competência.

A velha Revista da Semana, iniciada em 13 de outubro de 1964, a mais longa história do rádio na Paraíba, renova-se, pela competência do seu criador e apresentador, a cada domingo, sempre noticiando e comentando os fatos da semana, alimentando de conhecimento seus antigos e novos admiradores em toda a Região, que abrange, pelo menos, três Estados.

A Diocese de Patos, proprietária da Espinharas desde que nela ingressou Gonzaga, é a grande responsável pelo bom gosto de manter viva uma tradição que vem de décadas. E Luiz Gonzaga Lima de Morais, o protagonista da Revista da Semana, continua, da maneira como a começou, infalivelmente  às tardes dos domingos,  como dizia a saudosa professora Emília: “passando a notícia a limpo”.

Luiz Gonzaga Lima de Morais, por todos os méritos, é o ícone maior da nossa imprensa, infelizmente quase à mingua de valores que a honrem, mesmo tendo eu a obrigação de considerar algumas gratas exceções.

Parabéns à Rádio Espinharas, a Patos, a  toda a Região e muito particularmente a Gonzaga,  pelos 50 anos da Revista da Semana.

(josaugusto09@gmail.com)

Comentário do programa – Muito me lisonjeou (não chego nem perto do que ele ali diz de mim, senão um esforçado praticante do jornalismo) o artigo de José Augusto Longo, que na sua modéstia esqueceu de registrar que, se aprendi alguma coisa nestes cinquenta anos de rádio, ele tem parte na culpa pois foi um dos meus professores, ao lado dos supracitados Severino Quirino, Virgílio Trindade, Nestor Gondim e Edleuson Franco. Apenas uma corrigenda. Quem fez cinquenta anos foi o radialista. A Revista da Semana foi lançada em 1972, suspensa em 1974 e retomada em 1980, desde quando não parou mais. São apenas quarenta e dois anos passados depois da primeira Revista da Semana. O período em que deixei de fazer a Revista, entre 1974 e 1979 foi justamente quando fiquei fora de Patos trabalhando em Recife, tempo em que aproveitei para fazer o curso de Jornalismo, na Universidade Católica de Pernambuco, época em que ainda não se formavam jornalistas na Paraíba já que o curso de Comunicação Social da UFPB só foi criado em 1977. Os grandes jornalistas que militavam na época eram todos formados no “batente”, como é o caso de José Augusto que ainda nos dá aulas de jornalismo até hoje. Emília Longo foi nossa companheira como professora de Português no Colégio Estadual e depois foi nossa diretora numa filial do Colégio Estadual que funcionou no prédio da Escola Estadual Rio Branco, na rua Floriano Peixoto, e depois se transformou na Escola Estadual Manoel Gomes, no bairro do Salgadinho. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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